Xintoísmo (parte 2 de 2): Um exemplo de politeísmo
Descrição: Um olhar nas crenças e rituais no Xintoísmo que o marcam como uma religião de politeísmo puro.
- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
- Publicado em 12 Sep 2016
- Última modificação em 12 Sep 2016
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A religião xintoísta pode ser descrita como muito localizada. Os adeptos estão preocupados com a adoração, no santuário local ou em suas casas. É uma religião muito ritualizada que enfatiza a bondade essencial da humanidade. Embora o Xintoísmo ensine e exija padrões morais e éticos elevados, não têm mandamentos ou leis nesse sentido. Não há Ser Supremo ou Deus e Xintoísmo não tem fundador. Basicamente o Xintoísmo consiste em crer e adorar o Kami. Para facilitar o entendimento, os Kami são geralmente descritos como seres divinos. Entretanto, não são como os deuses e semideuses de outras crenças.
Os Kami não são onipotentes, não existem em outro universo ou plano espiritual e não são seres perfeitos. Cometem erros, se comportam mal e, em certas ocasiões, são muito maus. Os Kami têm muitas qualidades em comum com os seres humanos e é dever deles proteger os seres humanos. Em troca os seres humanos devem cuidar dos Kami e por isso a adoração e oferendas rituais feitas ao Kami em santuários e santuários domésticos em todo o Japão. A palavra Kami pode ser traduzida como espíritos ou seres espirituais, mas também se refere à essência da existência encontrada em tudo.
O Kami é o elemento sagrado ou místico em quase tudo. Está em tudo e é encontrado em todos os lugares e é o que faz um objeto em si, ao invés de outra coisa. A palavra Kami significa o que está oculto. No Islã também temos criaturas que geralmente são descritas como espíritos e são chamadas de jinn (gênios). A palavra árabe Jinn vem do verbo "janna" e significa ocultar ou esconder. Explicam o fenômeno estranho que afeta e frequentemente assedia os seres humanos. As pessoas não estão cientes da realidade dos jinns e geralmente não são capazes de explicar esses eventos ou os atribuem às almas dos mortos.
Os jinns são uma criação de Deus, sem atributos divinos. Vivem no mundo conosco, mas separados de nós, e são capazes de ser bons ou maus. Entretanto, no Islã a grande maioria dos jinns são maus e têm sido responsáveis por tentar e levar muitas pessoas ao grande pecado do politeísmo. São feitas oferendas aos Kami na esperança de agradá-los e encorajá-los a proteger e intervir nas vidas da humanidade. No Islã essa adoração aos jinns seria considerada um pecado muito grande e, possivelmente, resultaria no inferno eterno. No Islã somos ensinados a evitarmos os jinns e aprendemos maneiras de nos protegermos de sua malícia e maldade.
O Islã também afirma categoricamente que nada é merecedor de adoração, além de Deus. Embora a ênfase no comportamento bom e virtuoso encontrada no Xintoísmo seja louvável ela é, entretanto, desperdiçada por algo que os muçulmanos consideram totalmente inaceitável. No Islã somente Deus dirige os assuntos da humanidade. Não importa quantas oferendas sejam feitas perante um santuário ou altar, o destino decretado por Deus não muda. Engajar-se nesse tipo de comportamento não tem nenhum propósito, além do de atrelar uma pessoa à superstição e medo.
Ao fazer suas oferendas os seguidores do Xintoísmo engajam em rituais de purificação. Os agentes usados nos rituais realizados no início de qualquer cerimônia religiosa são geralmente água e sal. Shubatsu é um ritual de purificação no qual o sal é salpicado sobre sacerdotes, devotos ou no chão, para purificá-los. É encontrado um uso notável do sal em purificação na luta de sumô, quando os lutadores salpicam o sal ao redor do ringue para purificá-lo. Um dos rituais de purificação mais simples é lavar o rosto e as mãos com água pura no início de uma visita ao santuário, para purificar o visitante o suficiente para se aproximar do Kami. Rituais de pureza também incluem se banhar e ficar embaixo de cachoeiras.
Os festivais xintoístas (masuri) geralmente combinam os rituais solenes com celebrações alegres que às vezes incluem bebedeiras. Os rituais de purificação e as oferendas são geralmente combinadas com música, dança e louvores e os sacerdotes xintoístas abençoam tudo com um o ramo da árvore sagrada sakaki, mergulhada em água sagrada. Existe outro ritual xintoísta do tipo xamanista, geralmente em áreas rurais, no qual miko (mulheres xamãs) falam para o Kami ao entrar em um transe. Nos santuários as cinco oferendas mais tradicionais são arroz, vinho de arroz (saquê), água, sal e ramos de árvores. São oferecidos em quantidades pequenas e simbólicas, apresentadas em recipientes de cerâmica brancos e, dependendo da região, estação do ano e festival e produção local, também são oferecidos frutas e legumes. É tradicional oferecer qualquer iguaria ao Kami antes de as pessoas participarem.
Outro elemento importante dos festivais xintoístas são as procissões, nas quais o Kami do santuário local é carregado pela cidade em um palanquim. É a única vez do ano em que as estátuas deixam o santuário. Também existem carroças decoradas nas quais as pessoas se sentam e são puxadas pelas ruas com o acompanhamento de flauta e tambores. Alguns festivais são calmos, mas muitos são energéticos e barulhentos. Para muitos que estão de fora essa combinação de ritual e solenidade com vulgaridade parece muito irreverente, mas os seguidores do Xintoísmo acreditam que representa a relação que o Xintoísmo tem com o mundo real.
Os santuários xintoístas e altares domésticos não contêm somente estátuas e ídolos, mas uma gama de talismãs para manter as pessoas seguras enquanto viajam ou provê-las com boa saúde, sucesso nos negócios, parto seguro, etc. Talismãs especiais são comprados nos santuários xintoístas para trazer boa sorte e afastar os maus espíritos. Incluem flechas, pequenos amuletos e placas (ema) que têm um lado branco no qual as pessoas podem escrever um desejo ou pedido. Na maioria dos santuários xintoístas existe uma parede coberta com ema de madeira que contém os pedidos escritos para o Kami.
Um muçulmano entende que a adoração no Xintoísmo envolve muitos elementos de shirk[1]. Dar oferendas, manter estátuas e talismãs e acreditar que criaturas, além de Deus, podem afetar nossas vidas, são todos aspectos de politeísmo. É Deus Quem controla tudo e nada acontece sem Sua Vontade. Na religião do Islã a crença em um Deus Único, sem parceiros ou associados é essencial. É o ponto central da religião. É por essa razão que o Islã geralmente é chamado de monoteísmo puro. Não é adulterado com conceitos estranhos ou superstições, como os rituais que existem no Xintoísmo. Deus coloca uma pergunta: Não sou o melhor? Pergunta Ele.
Quem origina a criação e logo reproduz? E quem vos dá o sustento do céu e da terra? Poderá haver outra divindade em parceria com Deus? Dize-lhes: Apresentai as vossas provas, se estiverdes certos. (Alcorão 27: 64)
Notas de rodapé:
[1]Shirké o pecado de idolatria ou politeísmo. É a deificação ou adoração de qualquer pessoa ou coisa além do Deus Único.
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