Físicos Contemporâneos e a Existência de Deus (parte 2 de 3): Uma Série de Causas

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Descrição: Uma Avaliação Islâmica Crítica das Idéias de Alguns Físicos Contemporâneos.  Parte dois: Várias hipóteses do que poderia ser a causa de seres ou eventos.

  • Por Dr. Jaafar Sheikh Idris
  • Publicado em 09 Mar 2009
  • Última modificação em 18 Mar 2009
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Se a matéria, tempo e espaço tiveram todos um começo, a pergunta que naturalmente nos vem à mente é: Como vieram a existir?  O Alcorão nos diz que se uma pessoa não acredita em Deus, então ela não pode explicar a existência de nada exceto através de uma das três explicações insustentáveis:

a.     Ela diz que foi criado por nada, ou seja, que simplesmente apareceu do nada.

b.    que criou a si próprio,

c.     Que foi criado por algo que também é criado.

Se dirigindo aos ateus, o Alcorão diz:

“Porventura, não foram eles criados do nada, ou são eles os criadores? Ou criaram, acaso, os céus e a terra? Qual! Não se persuadirão!” (Alcorão 52:35-36)

O Alcorão não está dizendo que os árabes aos quais se dirigiu de fato acreditavam que as coisas foram criadas do nada, ou que se auto-criaram.  Eles certamente não alegaram serem os criadores dos céus e da terra; nenhuma pessoa sã faria isso.  O Alcorão está apenas deixando claro para os ateus o absurdo de sua posição.

Depois de um cuidadoso estudo de alguns dos argumentos de muitos filósofos e cientistas ocidentais ateus, descobri que eles de fato recaem nessas três categorias insustentáveis?  Por que insustentáveis?

Foi criado do nada?

Suponha que você diga a alguém que não havia nada, nada mesmo em certa região e então, uau!, um pato apareceu lépido e fagueiro.  Por que esse alguém não acreditaria em você por mais que lhe assegurasse que esse era de fato o caso?  Não apenas ele sabe que patos não passam a existir dessa forma, como alguns podem supor, mas porque acreditar nisso viola um princípio essencial de sua racionalidade.  Assim, sua atitude seria a mesma ainda que a coisa que lhe foi dita que veio do nada fosse algo que ele nunca tivesse ouvido falar.  É porque acreditamos que nada vem do nada que continuamos buscando por causas para explicar a ocorrência de eventos no mundo natural, social ou psicológico.  É por causa desse princípio racional que a ciência foi possível.  Sem ele, não apenas nossa ciência, mas nossa própria racionalidade estaria em perigo.  Além disso, o princípio da causalidade é essencial até para a própria identidade das coisas, como foi observado pelo filósofo muçulmano Ibn Rushd (Averroes):

É auto-evidente que coisas têm identidades, e têm qualidades devido ao fato de que cada existente tem suas ações, e devido ao fato de que coisas têm diferentes identidades, nomes e definições.  Se não fosse o caso de que cada coisa individual tem uma ação peculiar, ela não teria uma natureza que é peculiar a ela; e se não tivesse uma natureza especial, não teria um nome ou definição especial. (Tahafut Attahafut, 782-3)

Criou a si próprio?

O absurdo da idéia de algo se auto-criar é ainda mais claro.  Para algo criar, já deve existir; mas para ser criado, deve ser não-existente.  A idéia de algo que se auto-cria se contradiz.

Foi criado por algo que também é criado?

Pode a causa de uma coisa temporal ser ela própria temporal?  Sim, se estamos falando sobre causas imediatas e incompletas como comer e nutrir, água e germinação, fogo e queimadura, etc. Mas essas causas são causas incompletas.  Primeiro, porque nenhuma delas é por si suficiente para produzir o efeito que lhe atribuímos; toda causa temporal do tipo depende de um hóspede de outras condições positivas e negativas para sua eficácia.  Segundo, por serem temporais precisam ser causadas, e não podem ser as causas supremas da existência de nada.  Suponha o seguinte como uma série de efeitos e causas temporais: C1, C2, C3, C4… Cn, tal que C1 é causado por C2, C2 por C3, e assim por diante.  Essas causas temporais são causas reais, e úteis, especialmente para propósitos práticos e para explicações incompletas; mas se buscarmos pela causa suprema da existência de, digamos, C1, então C2 certamente não é a causa, uma vez que ele próprio foi causado por C3.  O mesmo pode ser dito sobre C3, e assim por diante.  Então mesmo que tenhamos uma série infinita dessas causas temporais, ainda assim isso não nos dará a explicação definitiva da existência de C1.  Colocando em outras palavras: quando C1 passa a existir?  Somente depois de C2 ter passado a existir.  Quando C2 passa a existir?  Somente depois de C3 ter passado a existir e assim por diante até Cn.  Consequentemente, C1 não passará a existir até que Cn tenha passado a existir.  O mesmo problema persistirá mesmo se formos além de Cn, mesmo se formos até o infinito.  Isso significa que se C1 dependesse para sua existência dessas causas temporais, ele nunca existiria.  Não haveria uma séria de causas reais, mas apenas uma série de não-existentes, como explicou Ibn Taymiyyah[1].  O fato, entretanto, é que há existente ao nosso redor; portanto, sua causa suprema deve ser algo diferente de causas temporais; deve ser uma causa eterna e, portanto, não-causada.

Quando alguém, seja um cientista ou não-cientista, insiste em suas crenças errôneas em face de todas as evidências, não pode haver maneira de ele apoiar essas crenças exceto recorrendo a argumentos dúbios, porque nenhuma falsidade pode ser apoiada por um argumento válido.  Isso pode ser visto com todos os cientistas e filósofos ateus que acreditam na teoria do Big Bang.

Alguns alegaram de forma impassível que a matéria original do universo saiu do nada.  Dessa forma Fred Hoyle, que defendia a teoria do estado permanente, que foi por algum tempo considerada uma rival crível para a teoria do big bang, mas que, como sua rival, necessita da existência de matéria nova – costumava dizer[2]:

A questão mais óbvia a ser feito sobre a criação contínua é essa: de onde vem a matéria criada?  Não vem de lugar nenhum.  O material simplesmente aparece – é criado.  Em um momento os vários átomos que compõem o material não existem, e em um momento posterior existem.  Pode parecer uma idéia muito estranha e concordo que é, mas em ciência não importa o quão estranha uma idéia pode parecer desde que funcione – ou seja, desde que uma idéia possa ser expressa em uma forma precisa e desde que suas consequências estejam de acordo com observação. (Hoyle, 112)

Quando Hoyle disse isso, houve um rebuliço contra ele.  Foi acusado de violar um princípio fundamental da ciência, nominalmente o de que nada sai do nada, e que estava ‘abrindo as comportas da religião’ como um filósofo de ciência colocou.  Mario Bunge disse a esse respeito:

Essa teoria envolve a hipótese da criação contínua da matéria ex-nihilo (do nada).  E isso não é o que geralmente se quer dizer por respeitar o determinismo científico mesmo no seu sentido mais amplo, porque o conceito de emergência do nada é caracteristicamente teológico ou mágico mesmo se vestido em uma forma matemática. (Bunge)

Que a hipótese de criação ex-nihilo não é científica é verdade, mas a alegação de que é caracteristicamente teológica passou dos limites.  Religiões teístas não dizem que as coisas saíram do nada absoluto porque contradiz a reivindicação religiosa básica de que são criadas por Deus.  Tudo que muitas pessoas religiosas dizem é que Deus criou as coisas do nada, e existe uma grande diferença entre as duas noções.

Se a criação do nada era anteriormente considerada pelos ateus como um princípio teológico e não-científico, agora é reivindicada por alguns como tendo uma condição científica e é usada para desacreditar a religião.

Pela primeira vez uma descrição unificada de toda a criação pode estar dentro de nossa compreensão.  Nenhum problema científico é mais fundamental ou mais intimidador do que o quebra-cabeças de como o universo passou a existir.  Isso pode ter acontecido sem qualquer interferência sobrenatural?  A mecânica quântica parece prover uma saída na antiga suposição de que ‘você não pode obter algo do nada’.  Os físicos agora falam sobre ‘o universo auto-criado’: um cosmos que surge para a existência espontaneamente, da mesma forma que uma partícula subnuclear surge de lugar nenhum em certos processos de alta energia.  A questão sobre se os detalhes dessa teoria estão certos ou errados não é importante.  O que importa é que agora é possível conceber uma explicação científica de toda a criação. (Jastrow, viii)

Que tipo de explicação é essa?  Você realmente começa a explicar algo dizendo que surgiu de lugar nenhum?  Os cientistas realmente acreditam que a partícula subnuclear a que se referem surge de lugar nenhum, no sentido de que realmente vem do nada, e não tem relação alguma com qualquer coisa que a preceda?  Comentando sobre o que Davies alegou, um cientista disse: “Isso, em qualquer caso, é um evento que ocorre em espaço e tempo, dentro de um domínio banhado em matéria e radiação. ‘Nada’ de modo algum pode ser visto nessa situação...”[3]

A mesma idéia falaciosa é repetida em um livro posterior por outro cientista ateu, Taylor:

Como tal, existe uma probabilidade não-zero de, digamos, uma partícula como um elétron aparecer do vácuo.  De fato um vácuo é cheio de possibilidade, uma das quais é o aparecimento do próprio Universo.  Foi criado do nada. (Taylor, 22)

De que tipo de vácuo Taylor está falando?  Se ele estiver usando a palavra em seu sentido científico técnico, então ele pode de fato falar em ser cheio de possibilidades, ou de um elétron aparecer dele, porque esse vácuo é de fato uma região não-vazia.  Mas isso, certamente, não é o nada ao qual se refere à teoria do big bang.  Não existe, portanto, nem uma analogia entre o aparecimento de uma partícula em um vácuo e o aparecimento de um Universo do nada absoluto.



Footnotes:

[1] Taqi al-Din Ahmad Ibn Taymiyyah (1263 - 1328), um estudioso muçulmano nascido em Harran, agora Síria.

[2] Posteriormente ele mudou de idéia, não apenas sobre isso, mas sobre toda a teoria.

[3] Isso é o que meu amigo, Professor Mahjoob Obeid, o famoso físico sudanês escreveu para mim em uma comunicação pessoal.

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