Karla, ex-cristã, EUA
Descrição: Karla explica como sua insatisfação teológica com a doutrina de Jesus como Deus e sua descoberta dos direitos dados às mulheres no Islã a levaram a se tornar muçulmana.
- Por Karla
- Publicado em 09 Feb 2015
- Última modificação em 09 Feb 2015
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Meu processo de conversão ao Islã foi longo (levou 20 anos!). Começou quando tinha doze anos. Fui para uma escola particular muito cara, muito anglofílica, e tínhamos que usar uniformes. Critérios diferentes para notas, etc. Foi em uma aula na qual estávamos estudando as maiores religiões do mundo, Cristianismo, Judaísmo, Islã, Budismo e Hinduísmo, cada qual sendo apresentada em formato de livreto, que minha fascinação com o Islã começou. Não sei por que, mas minha primeira impressão dos muçulmanos era que não eram hipócritas como os cristãos que conhecia. Lembro-me de duas coisas que realmente se destacaram: uma, o foco ser somente em Deus. Isso era muito importante para mim, porque desde que me lembro, tenho tido questionamentos sobre os aspectos doutrinários do Cristianismo, especialmente os pontos que falavam sobre Jesus ser Deus. Para mim isso contrariava o primeiro mandamento.
O segundo item que se destacou foram os salat (orações). Não apenas orar cinco vezes ao dia, mas como a maioria das orações focava em adorar somente a Deus. No Cristianismo nossas orações tendiam a ser "orações de pedidos", ou seja, "Deus dê-me isso... Deus dê-me aquilo."
Fui para a universidade em Washington DC, que tinha uma população muçulmana bem grande. Meu interesse no Islã ainda continuava, embora fosse muito tímida para buscar abertamente uma compreensão mais profunda dele. Em vez disso, me dava por satisfeita com o que chamava de "circular por mesquitas", que era simplesmente dirigir ao redor do centro islâmico na Mass Avenue, embora fosse muito tímida para entrar. Um dia liguei para ver se tinham aulas para pessoas interessadas no Islã, mas não recebi uma ligação de volta. Comprei uma cópia do Alcorão e comecei a lê-la. Era surpreendente. Foi direto ao meu coração, sabe? A coisa que mais me surpreendeu sobre o Islã desde o início, foram os direitos dados às mulheres. Sei que muitas pessoas hoje ririam de mim por tal afirmação, mas como alguém que lei a Bíblia - vi os direitos dados às mulheres no Islã que nunca foram dados às mulheres na Bíblia. Foi dado às mulheres o direito de recusar um parceiro para o casamento, enquanto que na cultura ocidental cristã típica na época (600s EC), as mulheres eram vistas basicamente como propriedade de seus pais a serem casadas da maneira que ele considerasse adequada. Tiveram a garantia de uma parte na herança de seu pai e marido, enquanto que no ocidente aquela herança tipicamente ia para o filho mais velho. As mulheres tiveram o direito de ter propriedades e entrar em contratos, um direito que as mulheres nos Estados Unidos não obtiveram até a metade do século dezenove. O profeta Muhammad, que Deus o exalte, pregou contra o infanticídio feminino - uma prática comum da época e que ainda é um problema na Índia e na China. Claro, hoje é um infanticídio feminino com alta tecnologia - abortos feitos depois de um ultrassom para determinar o sexo da criança. Homens e mulheres são alertados para buscar conhecimento do "berço ao túmulo". Infelizmente, a cultura parece interferir com alguns desses direitos hoje em dia.
Durante meu último ano encontrei um programa de dawa na TV chamado "Islam". Apresentava uma âncora feminina com aparência ocidental que entrevistava pessoas sobre vários tópicos relacionados ao Islã. Acho que era preparado pelo Serviço de Informação Islâmica, mas não estou certa. Fiquei totalmente viciada nesse programa e ajustava meu videocassete para gravá-lo se tivesse que sair. Não lembro em que canal era - apenas que passava às sextas-feiras e que cada programa começava com "Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso." Quando o programa Sahada surgiu sabia que acreditava e, assim, fiz minha shahada com minha TV. Infelizmente não conhecia muçulmanos para conversar sobre o Islã. Estava muito preocupada com o que meus amigos e família pensariam. Algum tempo depois da graduação (acho que foi 1990 ou 1991), a embaixada saudita patrocinou uma exibição de arte islâmica no centro da cidade. Lembro-me de perguntar a um dos exibidores se tinham qualquer informação adicional sobre o Islã - e o rapaz disse "não". Fiquei devastada. Não sabia para onde ou quem me voltar para saber mais sobre o Islã e ter minhas perguntas respondidas. Era muito tímida para entrar em uma mesquita. Nem sabia se podia ir, sendo mulher. Não sabia se estaria vestida adequadamente ou se seria a única pessoa que não falava árabe lá. Continuei lendo o meu Alcorão e fazendo as perguntas a Deus. Esperando que Deus respondesse minhas orações.
Minha fome por Deus não cessou e, então, decidi adotar uma religião mais convencional. Tornei-me cristã por algum tempo durante a metade dos meus 20 anos. O problema era que eu sempre tinha perguntas/dúvidas em relação ao Cristianismo, principalmente sobre o conceito de Trindade/divindade de Jesus. Jesus como Deus não fazia sentido para mim porque ia contra o primeiro mandamento e ao que o próprio Jesus parecia praticar. Ele sempre focava em Deus, o Pai, por assim dizer. Quando perguntado, dizia que o maior mandamento era amar ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. Deus - singular. Isso é algo que sempre me empenhei em fazer e espero ainda melhorar. Perguntei a alguns pastores diferentes sobre minhas dúvidas e a resposta que recebia era: "Você simplesmente precisa ter fé." Lembro-me que em uma aula de estudo bíblico esse homem começou a dizer todas aquelas mentiras sobre muçulmanos. Contestei e disse: "Isso não é verdade!" e comecei a contar para as pessoas em minha escola dominical sobre o que os muçulmanos realmente acreditavam. Mesmo então não conseguia negar a shahada. Continuava a acreditar que só havia um Deus e que Muhammad era o profeta de Deus.
Enquanto estava na pós-graduação no Tennessee contatei a Associação de estudantes muçulmanos no campus. Duas irmãs me encontraram em uma padaria local para um chá. Infelizmente não entenderam que queria me converter e todo o encontro foi muito bizarro. Decidi que continuaria a me considerar monoteísta e dei por encerrado. Lia sobre todas as principais crenças monoteístas: Judaísmo, Islã e Cristianismo. Entretanto, tornei-me cada vez mais desconfortável com o Cristianismo. Se fosse a igreja e houvesse um crucifixo na parede, ficava incomodada! Parecia como um ídolo que as pessoas estavam adorando. Gostava de aprender mais sobre o Judaísmo e constatei que era o mais próximo do Islã.
Entrei na empresa atual há quase dois anos. Coincidentemente durante a minha orientação de recursos humanos, havia um rapaz com quem trabalharia muito lá. Ele trabalhou para mim em muitos projetos e nos tornamos amigos. Ele tinha acabado de sair da universidade e era um "rebelde". Fazia muitas perguntas a ele, como ele podia beber, se era muçulmano. Até ameacei contar a mãe dele! Também perguntei a ele por que não ia para a oração de Juma (sexta-feira), etc. Ao longo de um ano percebi que, ao falar com ele, estava de fato falando comigo mesma. (Só para esclarecer, nunca bebi!)
Então, por volta de fevereiro passado fui à aula para novos muçulmanos no centro islâmico local em uma quarta-feira à noite e para minha surpresa não havia ninguém lá. Estava prestes a ir para casa, mas um dos irmãos continuava dizendo "só espere por Isha (a oração da noite)...o imame (líder religioso) estará aqui." Mesmo tentada a ficar e esperar, estava um pouco desconfortável e, assim, parti. Quatro semanas depois tentei novamente e para minha satisfação havia uma aula em andamento naquela noite. Primeiro disse a shahada em DC na frente da TV e agora, depois de 10-11 anos, estava dizendo novamente na frente do imame, uma irmã muçulmana e um monte de pessoas interessadas no Islã. Desde aquela época aprendi a orar (algo que tinha tentando ensinar a mim mesma através da web e vídeos por anos!) e comecei a estudar árabe. Insh’Allah (se Deus quiser) um dia serei capaz de ler e compreender o Alcorão em árabe. Estou totalmente maravilhada por já poder ler algumas partes do Alcorão embora meu vocabulário não me permita entender muito...ainda.
Segunda-feira, 8 de outubro de 2001, foi um dia importante em minha vida como muçulmana também. Usei o hijab (o lenço que cobre a cabeça da muçulmana) pela primeira vez para trabalhar, como parte da "Lenços para a campanha de solidariedade". Era a celebridade no trabalho - as pessoas caminhavam até a porta de meu escritório, já que tinha postado artigos sobre "Lenços por solidariedade" e também uma nota sobre o Islã em minha porta. As pessoas me perguntavam "você é um deles?" ou "você é muçulmana?" Eu disse: "Sim." Então agora sai do "armário muçulmano" no trabalho. Acho que as pessoas apenas supunham que uma pessoa loira de olhos azuis não podia ser muçulmana. A pergunta principal que as pessoas fazem é "como você, uma americana educada se converte ao Islã - uma religião que oprime as mulheres?" Rapidamente equiparam os direitos de mulheres no Afeganistão com os direitos de muçulmanas em todos os outros lugares. Basicamente o que digo é que o Alcorão dá as mulheres muito mais direitos que a Bíblia. Essa foi uma das coisas que primeiro me atraiu para o Islã.
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