Proteção Ambiental no Islã (parte 1 de 7): Uma Introdução Geral
Descrição: Uma introdução geral à atitude do Islã em relação ao universo, recursos naturais e a relação entre homem e natureza.
- Por Dr. A. Bagader, Dr. A. El-Sabbagh, Dr. M. Al-Glayand e Dr. M. Samarrai (editado por IslamReligion. c
- Publicado em 25 Apr 2011
- Última modificação em 19 Feb 2012
- Impresso: 274
- 'Visualizado: 26,874 (média diária: 5)
- Classificado por: 78
- Enviado por email: 0
- Comentado em: 0
Deus criou tudo nesse universo na devida proporção e medida, tanto quantitativa quanto qualitativamente. Deus declarou no Alcorão:
“Em verdade, criamos todas as coisas predestinadamente.” (Alcorão 54:49)
“...com Ele tudo tem sua medida apropriada.” (Alcorão 13:8)
“E elevou o firmamento e estabeleceu a balança da justiça.” (Alcorão 55:7)
No universo existe uma enorme diversidade e variedade de formas e funções. O universo e seus vários elementos atendem ao bem-estar humano e são evidência da grandeza do Criador; Ele é Quem determina e ordena todas as coisas e não existe nada que Ele criou que não celebre e declare Seus louvores.
“Não reparas, acaso, em que tudo quanto há nos céus e na terra glorifica a Deus, inclusive os pássaros, ao estenderem as suas asas? Cada um está ciente do seu (modo de) orar e louvar. E Deus é Sabedor de tudo quanto fazem.” (Alcorão 24:41)
Cada coisa que Deus criou é um sinal extraordinário, cheio de significado; apontando além de si para a glória e grandeza de seu Criador, Sua sabedoria e Seus propósitos.
“Foi Ele Quem vos destinou a terra por leito, traçou-vos caminhos por ela, e envia água do céu, com a qual faz germinar distintos pares de plantas. Comei e apascentai o vosso gado! Em verdade, nisto há sinais para os sensatos.”(Alcorão 20:53-54)
Deus não criou nada nesse universo em vão, sem sabedoria, valor e propósito. Deus diz:
“E não criamos os céus e a terra e tudo quanto existe entre ambos para Nos distrairmos. Não os criamos senão com prudência.” (Alcorão 44:38-39)
Sendo assim, a visão islâmica revelada no Alcorão é de um universo imbuído de valor. Todas as coisas no universo são criadas para servir ao Único Senhor Que sustenta todas elas através umas das outras e Que controla os ciclos milagrosos da vida e da morte:
“Deus é o Germinador das plantas graníferas e das nucleadas! Ele faz surgir o vivo do morto e extrai o morto do vivo. Isto é Deus! Como, pois, vos desviais?” (Alcorão 6:95)
Vida e morte são criadas por Deus para que Ele possa ser servido através de boas ações.
“Bendito seja Aquele em Cujas mãos está a Soberania, e que é Onipotente; Que criou a vida e a morte, para testar quem de vós melhor se comporta - porque é o Poderoso, o Indulgentíssimo.” (Alcorão 67:1-2)
Todos os seres criados são criados para servir ao Senhor de todos os seres e na execução de seus papéis determinados em uma sociedade projetada de forma coesiva, eles se beneficiam mais mutuamente nesse mundo e no outro. Isso leva a uma simbiose cósmica (takaful). O bem comum universal é um princípio que permeia o universo e uma implicação importante da Unicidade de Deus, porque se pode servir ao Senhor de todas as coisas trabalhando pelo bem comum.
O homem é parte desse universo, de fato elementos que se complementam mutuamente em um todo integrado. O homem é uma parte distinta do universo e tem uma posição especial entre suas outras partes. A relação entre homem e universo, como definida e explicada no Glorioso Alcorão e nos ensinamentos proféticos, é a seguinte:
·Uma relação de meditação, consideração e contemplação do universo e o que ele contém.
·Uma relação de utilização e desenvolvimento sustentável e emprego para benefício do homem e atendimento de seus interesses.
·Uma relação de cuidado e proteção porque as boas ações do homem não estão limitadas ao benefício da espécie humana, mas se estendem ao benefício de todos os seres criados e “existe uma recompensa por fazer o bem a todas as coisas vivas.” (Saheeh Al-Bukhari)
A sabedoria de Deus determinou a administração (khilafa) da terra aos seres humanos. Sendo assim, além de ser parte da terra e do universo, o homem também é o executor das injunções e mandamentos de Deus. Ele é somente um gerente da terra e não um proprietário; um beneficiário e não um dirigente ou mandante. O céu e a terra e tudo que contêm pertencem somente a Deus. Ao homem foi concedida a administração para gerenciar a terra de acordo com os propósitos pretendidos por seu Criador; para usá-la para seu próprio benefício e em benefício de outros seres criados e para o cumprimento de seus interesses e dos outros. Está assim encarregado de sua manutenção e cuidado e deve usá-la como um curador, dentro dos limites ditados por sua custódia. O Profeta declarou:
“O mundo é belo e verdejante e, verdadeiramente, Deus, seja Ele exaltado, os fez Seus gerentes nele e Ele vê como se comportam.” (Saheeh Muslim)
Todos os recursos dos quais a vida depende foram criados por Deus como uma custódia sob nosso cuidado. Ele ordenou o sustento para todas as pessoas e para todas as coisas vivas.
“E sobre ela (a terra) fixou firmes montanhas, e abençoou-a e distribuiu, proporcionalmente, o sustento aos necessitados, em quatro dias.” (Alcorão 41:10)
Assim, no Islã a utilização desses recursos é o direito e privilégio de todas as pessoas e todas as espécies. Portanto, o homem deve tomar todas as precauções para assegurar os interesses e direitos de todos os outros, uma vez que são parceiros iguais na terra. Da mesma forma, ele não deve considerar isso como restrito a uma geração em detrimento de todas as outras gerações. É, ao contrário, uma responsabilidade conjunta na qual cada geração usa e faz o melhor uso da natureza, de acordo com sua necessidade, sem interromper ou afetar de forma adversa os interesses de gerações futuras. Consequentemente, o homem não deve abusar, utilizar mal ou distorcer os recursos naturais uma vez que cada geração tem direito a se beneficiar deles, mas não tem o direito de se “apropriar” deles no sentido absoluto.
O direito de utilizar e se beneficiar de recursos naturais, que Deus concedeu ao homem, necessariamente envolve uma obrigação da parte do homem de conservá-los tanto quantitativa quanto qualitativamente. Deus criou todas as fontes de vida para o homem e todos os recursos da natureza que ele precisa, para que possa perceber objetivos como contemplação e adoração, habitação e construção, utilização sustentável e desfrute e apreciação de beleza. Como consequência, o homem não tem direito de provocar a degradação do ambiente e distorcer sua adequação intrínseca para a vida e assentamento humanos. Nem tem ele o direito de explorar ou usar os recursos naturais imprudentemente de maneira a prejudicar as bases alimentares e outras fontes de subsistência para os seres vivos ou expô-los à destruição e poluição.
Embora a atitude do Islã com o meio ambiente, fontes de vida e recursos naturais seja baseada em parte na proibição do abuso, também é baseada na construção e desenvolvimento sustentáveis. Essa integração do desenvolvimento e conservação de recursos naturais é clara na idéia de levar vida a terra fazendo-a florescer através da agricultura, cultivo e construção. Deus diz:
“...Ele foi Quem vos criou a terra e nela vos enraizou.” (Alcorão 11:61)
O Profeta declarou:
“Se qualquer muçulmano planta uma árvore ou semeia um campo, e um humano, pássaro ou animal se alimenta disso, será contado como caridade para ele.” (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)
“Se alguém planta uma árvore, nenhum ser humano ou qualquer das criaturas de Deus comerão dela sem que seja contado como caridade para esse alguém.” [1]
“Se o dia da ressurreição chegar para algum de vocês com uma muda na não, que a plante.” [2]
A abordagem do Islã em relação ao uso e desenvolvimento dos recursos da terra foi apresentado por Ali ibn Abi-Talib, o quarto califa, a um homem que tinha desenvolvido e reivindicado uma terra abandonada:
“Partilhe dela com alegria, enquanto for um benfeitor e não um espoliador; um cultivador e não um destruidor.” [3]
Essa atitude positiva envolve adotar medidas para melhorar todos os aspectos da vida: saúde, nutrição e as dimensões psicológicas e espirituais, para o benefício do homem e manutenção de seu bem-estar, assim como o aprimoramento da vida para todas as gerações futuras. Como é mostrado nas declarações proféticas acima, o objetivo da conservação e desenvolvimento do meio ambiente no islã é para o bem universal de todos os seres criados.
Footnotes:
[1] Relato sólido relatado por Imam Ahmad no Musnad e por Tabarani em al-Mu’jam al-Kabir.
[2] Relato sólido relatado por Imam Ahmad no Musnad, por Bukhari em al-Adab al-Mufrad e por Abu Dawud at-Tayalisi em seu Musnad.
[3] Relatado por Yahya ibn Adam al-Qurashi em Kitab al-Kharaj sobre a autoridade de Sa’id ad-Dabbi.
Adicione um comentário