Jerald F. Dirks, Ministro da Igreja Unida Metodista, EUA (parte 2 de 4)

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Descrição: A vida pregressa e educação de um bolsista Hollis de Harvard e autor do livro “A Cruz e o Crescente”, desiludido pelo Cristianismo devido à informação aprendida em sua Escola de Teologia.  Parte 2: Falta de fé, contato com muçulmanos, auto-questionamento, e a resposta.

  • Por Jerald F. Dirks
  • Publicado em 27 Sep 2010
  • Última modificação em 27 Sep 2010
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À medida que os anos passavam, comecei a me preocupar com a perda de fé na sociedade americana como um todo.  A fé é uma espiritualidade e moralidade vivas e naturais dentro dos indivíduos e não deve ser confundia com religiosidade, que está preocupada com ritos, rituais e credos formalizados de alguma entidade organizada, ou seja, a igreja.  A cultura americana cada vez mais parecia ter perdido seu compasso moral e religioso.  Dois em cada três casamentos acabavam em divórcio; a violência estava se tornando cada vez mais parte inerente de nossas escolas e estradas; a auto-responsabilidade declinava; autodisciplina estava submergindo por uma moralidade do tipo “se é bom, faça”; vários líderes e instituições cristãos estavam sendo tomados pelos escândalos sexuais e financeiros; e emoções justificavam o comportamento, por mais odioso que pudesse ser.  A cultura americana estava se tornando uma instituição moral rumo à falência; e estava me sentindo muito sozinho em minha vigília religiosa pessoal.

Foi nesse ponto que comecei a ter contato com a comunidade muçulmana local.  Por alguns anos minha esposa e eu tínhamos estado ativamente envolvidos em pesquisa sobre a história dos cavalos árabes.  Eventualmente, para assegurar traduções de vários documentos árabes, essa pesquisa nos colocou em contato com árabe-americanos que, por acaso, eram muçulmanos.  Nosso primeiro contato foi com Jamal no verão de 1991.

Depois de uma conversa telefônica inicial, Jamal visitou nossa casa e se ofereceu para fazer algumas traduções para nós e nos ajudar com a história dos cavalos árabes no Oriente Médio.  Antes de Jamal partir naquela tarde, ele perguntou se podia usar nosso banheiro para se lavar antes de fazer suas orações programadas; pegou emprestado um pedaço de jornal para usar como tapete de oração para que pudesse fazer a oração antes de deixar nossa casa.  Nós, claro, concordamos, mas ficamos pensando se não havia algo mais apropriado para oferecer do que um jornal.  Sem que percebêssemos na época, Jamal estava praticando uma forma muito bonita de Dawa (pregação ou exortação).  Não fez comentário sobre o fato de não sermos muçulmanos e não pregou qualquer coisa para nós sobre suas crenças religiosas.  Ele “simplesmente” nos apresentou seu exemplo, um exemplo que falou muito, se alguém fosse receptivo à lição.

Nos próximos 16 meses o contato com Jamal aumentou lentamente em frequência, até que ocorria em uma base semanal ou quinzenal.  Durante essas visitas Jamal nunca me pregou o Islã, nunca me questionou sobre minhas próprias crenças ou convicções religiosas, e nunca sugeriu verbalmente que me tornasse muçulmano.  Entretanto, eu estava começando a aprender muito.  Primeiro, havia o constante exemplo do comportamento de Jamal em observar suas orações programadas.  Segundo, havia o exemplo do comportamento de como Jamal conduzia sua vida diária de uma forma altamente moral e ética, tanto no mundo dos negócios quanto em seu mundo social.  Terceiro, havia o exemplo do comportamento de como Jamal interagia com seus dois filhos.  Para minha esposa, a esposa de Jamal fornecia um exemplo semelhante.  Quarto, sempre dentro de uma estrutura de me ajudar a entender a história do cavalo árabe no Oriente Médio, Jamal começou a compartilhar comigo:  1) histórias dos árabes e história islâmica; 2) ditos do Profeta Muhammad, que Deus o louve; e 3) versículos corânicos e seu significado contextual.  De fato, agora cada visita incluía uma conversa de pelo menos 30 minutos centrada em algum aspecto do Islã, mas sempre apresentada em termos de me ajudar a entender intelectualmente o contexto islâmico da história do cavalo árabe.  Nunca me foi dito “é assim que as coisas são”; era-me simplesmente dito “é assim que os muçulmanos costumam acreditar.”  Uma vez que não estava sendo feita uma pregação e que Jamal nunca perguntou sobre minhas crenças, nunca precisei me incomodar em tentar justificar minha própria posição.  Tudo estava sendo tratado como um exercício intelectual, não proselitismo.

Gradualmente Jamal começou a nos introduzir a outras famílias árabes na comunidade muçulmana local.  Havia Wa’el e sua família, Khalid e sua família e alguns outros.  De forma consistente, observei indivíduos e famílias que viviam suas vidas em um plano ético mais elevado que a sociedade americana da qual todos nós fazíamos parte.  Talvez tivesse perdido algo sobre a prática do Islã durante meus tempos de universidade e seminário.

Por volta de dezembro de 1992, comecei a me fazer algumas sérias perguntas sobre onde estava e o que estava fazendo.  Essas perguntas foram instigadas pelas seguintes considerações:

1)    Durante o curso dos 16 meses anteriores, nossa vida social tinha se tornado fortemente centrada no componente árabe da comunidade muçulmana local.  Por volta de dezembro, provavelmente 75% de nossa vida social era passada com muçulmanos árabes.

2)    Em função de meu treinamento e educação no seminário, sabia o quanto a Bíblia havia sido corrompida (e geralmente sabia quando, onde e por que), não cria em qualquer divindade trina, e não acreditava em nada além de uma "filiação" metafórica de Jesus, que Deus o louve.  Em resumo, embora certamente acreditasse em Deus, era um monoteísta tão estrito quanto meus amigos muçulmanos.

3)    Meus valores pessoais e senso de moralidade eram muito mais próximos dos de meus amigos muçulmanos do que da sociedade “cristã” à minha volta.  Acima de tudo, tive exemplos não-confrontacionais de Jamal, Khalid e Wa'el como ilustrações.  Em resumo, meu anseio nostálgico pelo tipo de comunidade no qual tinha sido criado estava encontrando gratificação na comunidade muçulmana.  A sociedade americana pode ter ido à falência moralmente, mas não parecia ser o caso para aquela parte da comunidade muçulmana com a qual tinha tido contato.  Os casamentos eram estáveis, os cônjuges eram comprometidos uns com os outros, e a honestidade, integridade, auto-responsabilidade e valores familiares eram enfatizados.  Minha esposa e eu tínhamos tentado viver nossas vidas da mesma forma, mas por vários anos senti que estávamos fazendo isso no contexto de um vácuo moral.  A comunidade muçulmana parecia ser diferente.

As diferentes linhas estavam sendo tecidas em uma única corda.  Cavalos árabes, minha infância, minha incursão no ministério cristão e minha educação no seminário, meu anseio nostálgico por uma sociedade moral, e meu contato com a comunidade muçulmana estavam se tornando intrincadamente entrelaçados.  Meu auto-questionamento veio à cabeça quando finalmente me perguntei o que me separava das crenças de meus amigos muçulmanos.  Suponho que podia ter feito essa pergunta a Jamal ou Khalid, mas não estava pronto para dar esse passo.  Nunca discuti minhas próprias crenças religiosas com eles e não sabia se queria introduzir esse tipo de conversa em nossa amizade.  Assim, comecei a tirar da estante todos os livros sobre o Islã que tinha adquirido durante meus anos de universidade e seminário.  Entretanto, por mais distantes que fossem as minhas próprias crenças da posição tradicional da igreja, e por mais que raramente frequentasse a igreja, ainda me identificava como cristão e, assim, me voltei para os trabalhos de estudiosos ocidentais.  Naquele mês de dezembro li meia dúzia de livros sobre o Islã escritos por estudiosos ocidentais, inclusive uma biografia do Profeta Muhammad, que Deus o louve.  Além disso, comecei a ler duas traduções diferentes para o inglês do significado do Alcorão.  Nunca falei com meus amigos muçulmanos sobre essa busca pessoal de auto-descoberta.  Nunca mencionei que tipos de livros estava lendo, nem por que os estava lendo.  Entretanto, ocasionalmente fazia uma pergunta muito rebuscada a um deles.

Embora nunca tivesse falado com meus amigos muçulmanos sobre esses livros, minha esposa e eu tivemos várias conversas sobre o que eu estava lendo.  Por volta da última semana de dezembro de 1992 fui forçado a admitir para mim mesmo que não pude encontrar nenhuma área na qual tivesse uma discordância substancial entre minhas próprias crenças religiosas e os princípios gerais do Islã.  Apesar de estar pronto para reconhecer que Muhammad, que Deus o louve, era um profeta (alguém que falou por ou sob a inspiração) de Deus, e embora não tivesse absolutamente nenhuma dificuldade em afirmar que não havia divindade exceto Deus, glorificado e exaltado seja, continuava hesitando em tomar qualquer decisão.  Podia admitir para mim mesmo que tinha muito mais em comum com as crenças islâmicas na forma como as entendia, do que com o Cristianismo tradicional da igreja organizada.  Sabia muito bem que podia confirmar facilmente de meu treinamento e educação no seminário a maior parte do que o Alcorão tinha a dizer sobre o Cristianismo, a Bíblia e Jesus, que Deus o louve.

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