Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 1 de 5)
Descrição: Depois de uma jornada espiritual de quase 40 anos, um linguista judeu de Boston encontra o Islã na África. Parte 1.
- Por Dr. Moustafa Mould
- Publicado em 12 Jan 2015
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Uma odisseia é uma jornada longa e errante. A palavra vem de Odisseu (em latim, Ulisses) um herói do poema épico, A Odisseia. A jornada dele para casa levou dez anos e foi carregada com muitos incidentes, desvios, perigos e aventuras. Em retrospecto, minha estrada para o Islã - minha jornada para casa - parece uma odisseia. Quando olho para trás em minha vida, desde minha tenra infância até finalmente fazer a shahadah [1], uma jornada de quase 40 anos, parece que existiram muitos sinais, muitos momentos decisivos, alguns significativos, alguns triviais, que estavam todos me preparando e apontando o caminho para o Islã.
Cresci em Boston. Era uma cidade muito católica, majoritariamente irlandesa e italiana, com comunidades pequenas, mas significativas de negros, judeus, chineses, gregos, armênios e árabes cristãos e, naqueles dias especialmente, cada grupo tinha sua vizinhança. Havia muitos restaurantes gregos e sírios e cresci amando salada grega shish kebob, lahm mishwi, quibe, folhas de uva, homus, qualquer coisa com cordeiro, etc.
Minha família era principalmente de judeus conservadores da classe trabalhadora. Meus avós tinham fugido do antissemitismo e dos pogroms da Rússia czarista por volta de 1903. Eles e suas famílias tinham encontrado trabalho nas oficinas de costura do bairro de vestuário, uns poucos tinham habilidades manuais e eram muito ativos em seus sindicatos. Fui o primeiro de minha família a ter um diploma universitário. Nossa casa não era estritamente kosher, mas jamais sonharíamos em comer porco. Todos os feriados e jejuns eram observados e por anos fui à sinagoga todos os sábados e feriados com meu pai e meu tio.
A sinagoga a qual pertencíamos era conservadora, próxima da ortodoxa, mas modernista: era muito tradicional, mas as mulheres não eram totalmente segregadas. Comecei a "Madrasah" (escola hebraica) com a idade de seis anos. Era 1948, que viu o nascimento do estado de Israel e a propaganda sionista enchia a atmosfera, assim como as conversas e sermões sobre os nazistas e campos de concentração, e havia muitos sobreviventes, refugiados e imigrantes recentes.
Naquela época ainda havia muito antissemitismo nos EUA, especialmente no sul e no meio-oeste, mas também em Boston. Os gregos, sírios e italianos eram ótimos, mas os irlandeses eram um grande problema que remontava à geração dos meus pais na Segunda Guerra e os anos 1920. Durante minha infância frequentemente cuspiam em mim, era perseguido, insultado e espancado. Até me seguraram no chão e abaixaram minhas calças - além da humilhação, queriam ver como era uma circuncisão.
Meus professores de hebraico eram dois irmãos israelenses que eram ortodoxos e veteranos da guerra de 1948. Deles aprendi o hebraico moderno e absorvi muito da ideologia sionista, junto com os ensinamentos religiosos. Tornei-me mais religioso e um ávido sionista. Acreditava que os judeus precisavam de seu próprio país no caso de outro Hitler - aquelas crianças irlandesas não estavam fazendo nada para aplacar meus temores e não me sentia "em casa" na América. Decidi que partiria e passaria minha vida em um kibutz (fazenda comunitária).
Meu pai era músico e cantor (líder de oração). Tinha uma bela voz de tenor, preferia as melodias mais tradicionais, preferivelmente orientais e recitava as orações com muito huzn (tristeza) (quando aprendi essa palavra recentemente comecei a me perguntar se era relacionada como a palavra hebraica hazan = "recitador"). Em nossa sinagoga o recitador do Torá usava um tajwid que soava muito oriental e eu adorava ouvir. Acredite ou não, recentemente ouvi um amigo recitando do Alcorão e soou quase idêntico.
Uma coisa que se destaca claramente em minha memória, mesmo agora durante o salat, é que nas orações judaicas existem referências regulares à prostração (sujud). De fato, é um costume em sinagogas mais ortodoxas que durante o Yom Kippur, o dia de jejum mais sagrado e o equivalente à "Ashura", o recitador, em nome da congregação, faça de fato o sujud, durante a recitação. Esse não é um feito menor e meu pai, com sua voz poderosa, o fazia extremamente bem. Lembro-me de pensar na época que seria realmente ótimo se todos de fato nos prostrássemos, ao invés de apenas nos curvarmos como um sujud simbólico.
Por volta dos oito ou nove anos, descobri por acaso uma estação de rádio que transmitia programas das comunidades étnicas locais. Comecei a ouvir os programas ídiches, gregos e armênios e especialmente à Hora Árabe. Apaixonei-me pela música e pelo som do idioma. Usando o hebraico que sabia, tentei entender as notícias e identificar as correspondências de sons. Notei as diferenças entre o hamzah e ‘ayn, kh e h, k e q, distinções que o hebraico moderno perdeu. Isso melhorou muito minha fala em hebraico e recebi prêmios na aula de hebraico. Também me lembro de ajudar meus amigos a trapacear durante os testes de pronúncia repetindo palavras em um sotaque "árabe".
No segundo grau tinha descoberto a biblioteca pública de Boston e sua seção de registros: além da clássica, descobri a música regional étnica do mundo todo, mas gravitei especialmente para a do Oriente Médio: árabe, turca, persa e então indo-paquistanesa. Aprendi a identificar vários estilos, instrumentos e ritmos regionais. O que mais amava era o alaúde. Aprendi sozinho a tocar o dumbeg e acompanhava as gravações. Uma vez um grupo de judeus do Iêmen veio a Boston de Israel para tocar canções e danças folclóricas. Fiquei fascinado pela aparência, costumes e música deles. Até pronunciavam o hebraico como eu durante o teste de pronúncia.
Menciono todas essas coisas pequenas porque existe um componente cultural inegável ao Islã: a língua, as melodias do adhan e do Alcorão, interações sociais e outras características que são realmente muito exóticas e estranhas para o ocidental mediano, incluindo os judeus ocidentalizados, mas que, quando as encontrei pela primeira vez anos depois em um contexto diferente, já eram muito familiares e agradáveis para mim, até chegar ao ponto de nostalgia, e que tornou mais fácil para mim aceitar e seguir o Islã. Mais sobre isso depois.
Meu melhor amigo no segundo grau também foi uma influência forte sobre mim. Lia muito sobre filosofia, poesia e literatura religiosa. Não me importava muito com as duas primeiras, mas de fato lia alguns escritos religiosos, hindus, budistas, taoístas - e o Alcorão. Notei que suas histórias eram muito semelhantes às histórias da Bíblia, mas sentia que eram anti-judaicas. Fiquei muito impressionado, entretanto, pela sua descrição de Jesus como um profeta, não apenas um rabino. Aceitei e isso se tornou minha resposta para meus colegas de turma católicos, quando perguntavam qual era minha crença em relação a Jesus. Não pareciam muito descontentes com isso.
Notas de rodapé:
[1]Shahadah, o testemunho islâmico de fé, ou seja, "testemunho que não há divindade exceto Deus e que Muhammad é o mensageiro de Deus."
Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 2 de 5)
Descrição: Depois de uma jornada espiritual de quase 40 anos, um linguista judeu de Boston encontra o Islã na África. Parte 2.
- Por Dr. Moustafa Mould
- Publicado em 19 Jan 2015
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Também frequentei uma "Madrasah" avançada, estudando história judaica, hebraico, Torá, aramaico e Talmude (o fiqh judaico); embora idiomas continuassem a ser meu interesse principal. Por volta da mesma época, com a idade de quinze anos, perdi minha fé, minha crença em Deus. Antes havia concluído que se Deus nos ordena a fazer certas coisas, como posso não fazê-las? Assim, tentei ser mais ortodoxo. Então, um dia me peguei dizendo, se Deus diz para fazer tudo isso, devo fazê-lo, mas e se não existir Deus? Acredito em Deus? Realmente não sabia. Talvez não, acho que não. E se Deus não existe, não preciso fazer tudo isso. E parei. Você pode imaginar o quanto meu pai ficou zangado.
Muitas pessoas, particularmente os católicos romanos e os protestantes fundamentalistas que cresceram em um ambiente religioso rígido, cheio de ameaças de inferno e danação, apanhando das freiras na escola e sendo levados a se sentirem culpados sobre coisas que são meramente parte da fitrah (natureza) - como seus corpos - ficam felizes em sair da religião. De fato, se tornam muito antirreligiosos, sentindo-se como se tivessem sido libertados de uma prisão! Meu sentimento não era esse. Sentia-me triste, mais como se tivesse sofrido uma perda, mas não havia nada que pudesse fazer. Sabia que seria confortante acreditar, mas não conseguia. Ao longo dos anos 1960 e 1970 ocasionalmente tive esses sentimentos e anseios corrosivos.
Como Jeffrey Lang disse em seu livro sobre sua conversão ao Islã, o ateu sente um vazio e uma solidão que as pessoas de fé não conseguem compreender. O mundo é absurdo, um acidente. A ciência tem, ou terá, todas as respostas, mas a vida não tem sentido ou significado reais. A morte é o fim. Você pode ter influência e um impacto no mundo através de seus filhos; pode se sair bem, ser lembrado nos livros de história por centenas, até milhares de anos; quando o sol morrer a humanidade pode colonizar outros sistemas estelares, talvez até outras galáxias. Mas, no fim, mesmo que leve 15 bilhões de anos, o universo em si morrerá ou entrará em colapso em um buraco negro ou qualquer outra coisa e o fim é o nada absoluto, a única coisa que é infinita é um vácuo. A vida, então, é sem sentido e a morte, aterrorizante. A verdade e a moralidade se tornam relativas, que podem levar à confusão moral, hedonismo e pior. Mas ao invés do desprezo pelas pessoas religiosas que muitos ateus alegam sentir, eu as respeitava e com frequência as invejava pela segurança, certeza e conforto que experimentavam.
Fui de uma hora para outra de um quase ortodoxo a um ateu, embora continuasse a amar os idiomas, cultura, música, comida e história judaicos. Era um judeu "étnico" e continuava um sionista. O sionismo ainda era amplamente uma filosofia política, não tanto uma filosofia religiosa. De fato, naquela época ainda havia oposição significativa ao sionismo entre muitos dos ortodoxos. O sionismo atual, do tipo religioso e messiânico, não se desenvolveu até 1967 - 1973, quando Israel tomou Jerusalém. Também decidi que queria ser um linguista histórico, especializado em línguas semitas, mas as universidades que escolhi não me aceitaram e a que me aceitou não oferecia árabe, ou mesmo linguística.
Em minha universidade no início dos anos 1960 entrei em contato com uma variedade maior de pessoas. Pela primeira vez conheci um grande número de protestantes, afro americanos e estudantes estrangeiros que eram muçulmanos. Não encontrava mais o antissemitismo e estava começando a gostar e apreciar a diversidade da América e minha exposição aos estudantes internacionais. No final do meu segundo ano estava comendo bacon e costeletas de porco. Ao mesmo tempo ajudei a organizar e fui o presidente da sede da Organização Sionista Estudantil no campus. Fui o vice-presidente em New England no meu último ano.
Muitos de nós éramos politicamente da esquerda, vindo de famílias da classe trabalhadora, cujo espectro abrangia de liberal democrata a comunista. Éramos a favor da sindicalização e da União Americana pelas Liberdades Civis, anti-McCartistas, contra Nixon e o Comitê de Atividades Antiamericanas. Reverenciávamos Franklin D. Roosevelt, Hubert Humphrey e Adlai Stevenson. Estávamos envolvidos em sionismo trabalhista e nos kibutzim. Uma coisa quero enfatizar, por causa do efeito profundo que teve em mim anos depois: naquela época a maioria dos judeus eram socialistas ou liberais democratas, muitos ainda pertenciam à classe trabalhadora, não tão bem-sucedidos como são agora. Lembro-me claramente do partido Herut de direita, de sua ideologia expansionista e das atividades terroristas nos anos 1940. Nós os considerávamos fanáticos e lunáticos.
Fiz um seminário sobre o Oriente Médio. Aos dezenove anos pensei que sabia tudo. Meu professor era sírio e achei que era muçulmano. Ensinaria a ele algumas coisas. Era notavelmente paciente e tolerante comigo, considerando sua óbvia posição antissionista e anti-Israel. Suas críticas aos meus trabalhos eram objetivas e leves, principalmente de que eram muito parciais. Comecei a prestar mais atenção ao outro lado e percebi quanta propaganda tinha absorvido e quanta informação havia ignorado. Não tirei uma nota muito boa, mas aprendi muito. Foi o professor Haddad que me fez perceber que uma pessoa pode ser simultaneamente secular e religiosa.
Ao mesmo tempo, estava me tornando cada vez mais envolvido com os movimentos sobre direitos civis e contra a guerra do Vietnã. Juntei-me ao Comitê Coordenador Estudantil para a Não-Violência e à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor e participei em protestos pacíficos em lanchonetes. Ajudei a fundar nossa sede no campus da então levemente radical Estudantes para uma Sociedade Democrática. Especializei-me em governo, fiz vários cursos em lei constitucional e relações internacionais. Fui para Washington, D.C. em agosto de 1963 para participar na "Marcha em Washington" e fiquei a menos de 20 metros do Dr. King quando ele fez aquele discurso maravilhoso.
Tinha perdido minha fé aos 15 e aos 22 tinha perdido o sionismo. Ainda tinha minha herança étnica, embora tivesse começado a me sentir desconfortável com o territorialismo de muitos judeus. Sentia-me como um americano normal lutando por causas americanas. Preparei-me para ser um professor de estudos sociais, mas o mercado de trabalho não era bom. Depois de dois anos atuando como substituto e uma posição temporária em minha antiga escola secundária, juntei-me ao Corpo da Paz porque a aventura e idealismo melhoraram minhas perspectivas de trabalho depois e para evitar ser recrutado e mandando para o Vietnã. Fui selecionado para ir para Uganda, África.
Estava extremamente feliz naquele belo país, morando onde o Nilo flui do Lago Vitória, ensinando alunos que queriam aprender em uma sociedade na qual professores eram respeitados. Estava aprendendo novas línguas e culturas. Desenvolvi um gosto pelas cozinhas africana e indo-paquistanesa. Como não havia muito que fazer em uma cidade pequena, comecei a assistir filmes indianos. Gostava particularmente de Mohammed Rafi, o famoso cantor, especialmente de seu qawalis. Lembrava-me da música religiosa de meu pai. Também gostava da ambientação árabe omanita islâmica que encontrei na costa: Mombasa, Dar es-Salam, Zanzibar. Foi a primeira vez não em um filme de Hollywood (ou de Bombaim) que ouvi o adhan (o chamado para a oração no Islã). Até nos filmes suas melodias tristes sempre me transmitem muita emoção. Estava aprendendo duas línguas africanas, suaíli e luganda. Suaíli era muito fácil para mim. Metade de seu vocabulário é do árabe e praticamente o mesmo do hebraico. Mas o suaíli é uma língua banto e estava fascinado pelas semelhanças e diferenças entre suaíli e luganda. Tomei uma decisão: aqui era minha última chance de fazer o que sempre quis - linguística - mas agora com banto, ao invés de línguas semitas. Fiz minha inscrição para a pós-graduação.
Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 3 de 5)
Descrição: Depois de uma jornada espiritual de quase 40 anos, um linguista judeu de Boston encontra o Islã na África. Parte 3.
- Por Dr. Moustafa Mould
- Publicado em 26 Jan 2015
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Voltei para casa passando pelo Oriente Médio e Europa, mas fiz questão de parar em Israel. Foi em 1969. Não era mais sionista, mas mesmo assim fiquei surpreso com meu desapontamento. Sei que parte foi um choque cultural de deixar uma cidade pequena de um país africano, pessoas e um emprego que amava, mas ainda assim, fiquei surpreso com a maneira brusca e a arrogância dos israelenses que encontrei - muito parecido com o estereótipo americano dos franceses. Partindo de uma perspectiva arqueológica e histórica, foi uma boa experiência. Mas não consegui superar o quanto me senti alienado da cultura e das pessoas que supostamente deveriam ser meu povo.
Recusei-me por princípio a visitar a Cisjordânia - isso foi antes de começarem a construir os assentamentos - exceto por Jerusalém oriental. Não pude resistir. De pé no muro do templo de Salomão, o Domo da Rocha e Al-Aqsa me deram um sentimento intenso que não pude descrever na época. Posso descrevê-lo agora: era um sentimento de santidade. Não é de admirar que o nome islâmico seja Al-Quds (O Sagrado). Mas me incomodou muito ver em primeira mão a discriminação e o status de segunda classe dos palestinos, mesmo os com cidadania. Tinha crescido em uma subcultura americana em que judeus tinham sempre estado na vanguarda dos direitos civis, trabalhistas e lutas pelas liberdades civis. Para mim, o que encontrei em Israel não era judaico.
Os próximos dez anos, 1969 a 1979, passei em Los Angeles. Perdi 1968, um dos anos mais importantes e turbulentos na história moderna americana. Embora não estivesse surpreso, fiquei muito desapontado no meu retorno aos EUA. Os negros estavam se separando dos brancos por escolha. A entidade Estudantes para uma Sociedade Democrática tinha se transformado em um bando de maoístas delirantes e a liberdade de expressão estava degenerando para um discurso sujo. Não conseguia ser político novamente, exceto por uma passeata ocasional contra a guerra ou Nixon. Era ao mesmo tempo atraído e repelido pelo hedonismo dos anos 1970 na Califórnia. Fiquei tentado a ceder e sem convicção o fiz, mas graças a Deus, por conta de minha fitrah e minha boa educação familiar judaica, não fui muito longe. O máximo que fiz foi deixar o cabelo e a barba crescerem. Estava muito absorvido em meus estudos, obtendo meu doutorado, ensinando, casando e então divorciando e em busca de uma posição acadêmica decente.
Duas coisas durante aquela década são relevantes para essa história. Brevemente, o governo do Likud em Israel, a construção de assentamentos e o tratamento brutal dos palestinos, sem mencionar sua aliança com a África do Sul, me revoltaram e enfureceram e me transformaram de um não sionista em um ativo antissionista. Pior para mim era o apoio automático da comunidade judaica americana, que pensei que se oporia ao Likud, ao menos de forma silenciosa. Não tínhamos concordado alguns anos antes que Begin e sua corja eram lunáticos?!
Muitos dos colonos entrevistados nos noticiários da TV obviamente eram judeus americanos. Como podiam ter crescido nesse país com esses valores americanos - e judaicos - passar pela revolução dos direitos civis e fazer o que estavam fazendo lá? Havia mais oposição judaica em Israel do que havia nos EUA. Senti-me traído, envergonhado, enojado. Havia, claro - e há - outros judeus que se sentiam como eu, principalmente os de esquerda, mas somente uns poucos se manifestavam. I.F. Stone, um jornalista radical e um dos meus heróis era notável, assim como Noam Chomsky, cujos escritos políticos sobre a guerra do Vietnã e a Palestina eram tão revolucionários quanto sua teoria de linguística.
Em 1979, recém-divorciado, incapaz de conseguir uma posição titular e sentindo saudades da África, retornei como professor assistente de linguística na universidade de Nairóbi. Meu pai tinha acabado de falecer poucos meses antes de minha partida. Fiquei amigo de vários membros da faculdade, particularmente do presidente do meu departamento e de um professor de história, ambos muçulmanos de Mombasa, e do professor de árabe, meu vizinho de porta sudanês. Frequentemente almoçávamos juntos no refeitório da faculdade e, por respeito a eles (e por embaraço, porque sabia que eles sabiam que era judeu), nunca comia porco quando estava com eles. Pouco depois parei completamente de comer porco. Com frequência discutíamos o Oriente Médio, Islã e Judaísmo e ficava agradavelmente surpreso ao ver que podiam ser anti-Israel sem serem anti-judeus. Eles ficavam surpresos que eu pudesse ser judeu e anti-Israel.
Com mais tempo livre decidi colocar em dia minha lista de leitura que crescia a cada dia. Reli a Bíblia: o Velho Testamento para esclarecer alguma confusão sobre cronologia na história antiga e também o Novo Testamento, porque nunca o tinha lido. Também reli o Alcorão. Até então não sabia nada do início da história islâmica. Sirah ou Hadith, mas o apreciei mais desta vez. Entretanto, tive aquela reação novamente. Por que tem que ser tão crítico dos judeus? Mas com minha memória refrescada recentemente, lembrei que o próprio Torá e o resto do Velho Testamento são igualmente críticos, ou até mais críticos, do que o Alcorão. Mas os judeus não tinham finalmente aprendido a lição se tornado verdadeiramente o Povo do Livro quando foram expulsos de Israel e de Jerusalém pela segunda vez, quando os rabinos, sinagogas e orações substituíram os sacerdotes, o templo e os sacrifícios? O que era isso então sobre os judeus de Medina? Eram claramente repreensíveis, mas soavam muito diferente de nós, judeus europeus, e até mesmo dos judeus sefaraditas do tempo dos califas. Será que eles, como os judeus da Etiópia e da China, não tinham o Talmude? Continuava curioso a respeito. De qualquer forma, aquela percepção posteriormente provou ser uma barreira removida.
Uma pessoa sábia um dia disse que se sua fé é fraca, apenas finja que tem fé e isso a fortalecerá. Os africanos, cristãos, muçulmanos ou pagãos, são um povo espiritual. Ser um ateu é incompreensível e ridículo para eles. Sabendo disso, nunca disse que era ateu quando questionado - como constantemente era - sobre minha religião. Respondia que, claro, acreditava em Deus, um Deus único, mas não em uma religião em particular. Era quase verdade ou, pelo menos, queria acreditar que fosse. Não posso dizer que tive um clarão repentino de inspiração como Paulo em sua estrada para Damasco, ou uma experiência de quase-morte (na realidade tive duas, mas sem efeito religioso). Parece-me que, apenas por dizer e fingir, ela gradualmente voltou.
Tornei-me um deísta, como outro herói meu, Thomas Jefferson. Talvez pudesse me filiar à Igreja Unitária, um grupo popular, especialmente em New England, que aceita Jesus como um profeta e inclui muitos intelectuais liberais que eram judeus e cristãos trinitários.
Outro fator que contribuiu foi ter começado a fazer parte na época do coro/orquestra sinfônica de Nairóbi. Era um grupo amador, mas eles eram excelentes. Tinha ido com alguns amigos a um concerto deles de Páscoa para ouvi-los cantar o Réquiem de Mozart - música para missa de um funeral. Aquela música, intensamente religiosa, era maravilhosa, sublime e inspiracional. Não foi apenas a beleza da música, embora fosse a parte principal, mas a mensagem - glorificar Deus, falar de morte, ressurreição, Juízo Final e vida eterna - que me levou às lágrimas. No dia seguinte me inscrevi para cantar no coro.
Pelos três anos seguintes cantei outras obras-primas: missas, réquiens, oratórios - Beethoven, Brahms, Bach, Verdi. Todas são cristãs e algumas fazem referência a Jesus como divino, mas aquelas palavras não tinham efeito sobre mim. Estava apenas ajudando a fazer uma bela música. Mas as partes que falavam de Deus me tocaram profundamente e me ajudaram a gradualmente recuperar minha fé e crença Nele. É claro que hoje não cantaria coisas como "Sei que meu redentor viveu".
Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 4 de 5)
Descrição: Depois de uma jornada espiritual de quase 40 anos, um linguista judeu de Boston encontra o Islã na África. Parte 4.
- Por Dr. Moustafa Mould
- Publicado em 02 Feb 2015
- Última modificação em 02 Feb 2015
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Então me apaixonei! Ela era somali, inteligente, divertida, charmosa e uma jovem viúva com dois belos filhos. O inglês dela era muito limitado e o meu somali quase não existente, mas podíamos nos comunicar facilmente em suaíli. Discutimos casamento, mas havia alguns problemas práticos.
Sabia que não podia ficar por muito mais tempo na universidade de Nairóbi. Estavam tentando africanizá-la o mais rápido possível e para eles eu era apenas outro estrangeiro branco. Antes que ficasse muito velho precisava de um novo emprego, provavelmente uma nova carreira, talvez com o Departamento de Estado ou uma organização sem fins lucrativos. Do ponto de vista dela o obstáculo era simplesmente eu não ser muçulmano. Tinha equivocadamente pensado que qualquer muçulmano podia se casar com alguém do Povo do Livro, mas ela me corrigiu nisso muito rapidamente: os homens podem, as mulheres não!
Ela estava me falando sobre o Islã e aprendi algumas coisas dos meus colegas e outros. Já acreditava no Deus Único como o Criador do universo e tudo que ele contém. Já acreditava nos conceitos islâmicos de tawhid e shirk e sabia a falácia de acreditar em algo como astrologia ou leitura de mãos. Há muito tempo acreditava que Jesus era um dos profetas e que Muhammad, que Deus o exalte, era um profeta e mensageiro. Também deixou de ser relevante para mim Muhammad não ser um profeta judeu.
Parei de comer porco. Não jogava, raramente bebia alguma coisa além de um cálice de vinho com um jantar especial eventual. Estava, desde os meus dias com o Corpo da Paz, mais confortável com as noções africanas e islâmicas de modéstia, educação dos filhos, etc., do que com a "revolução sexual", o individualismo e o fenômeno de desintegração de famílias que estavam em alta nos anos 1970 e 1980 na América. Não parecia haver muita coisa a me impedir de tornar-me um muçulmano. Estava tão perto, mas então qual era o problema em 1983?
De fato, havia dois problemas. Primeiro, havia a questão de minha identidade e herança cultural. Imagino que não seja tão traumático para um cristão mudar de uma religião para outra. Se um católico alemão se torna luterano, ou mesmo um judeu ou muçulmano, ele continua um alemão. Certamente me sentia um americano primeiro e depois um judeu - jamais poderia me considerar russo. Mas na América, uma nação de imigrantes, até os mais aculturados dão alguma importância às origens nacionais ou étnicas de suas famílias. Embora não tivesse vontade de lidar com judeus como judeus ou como comunidade, estava relutante em perder aquela identidade.
O segundo obstáculo era minha família. Embora não fossem ortodoxos, a maioria era muito tradicional, todos pró-Israel, alguns ávidos sionistas. Muitos consideravam os árabes como inimigos e esperava que também considerassem os muçulmanos como inimigos. Temia que me abandonassem por ser um louco ou mesmo um traidor. O pior de tudo é que, como ainda me amavam, ficariam magoados.
Primeiro o mais importante: Deixei aquele problema no ar e quando meu contrato expirou não o renovei e retornei para os EUA esperando encontrar outro emprego, preferivelmente um na África oriental. Foi extremamente difícil. Não tinha casa, renda, nem mesmo um terno para a entrevista. Investi em um terno de lã, três gravatas e um casaco de inverno - era meu primeiro inverno em vinte anos - comprei livros sobre como redigir um currículo e preencher um formulário de submissão para empregos no governo e fiquei com um amigo em Washington. Tentei todas as agências governamentais, firmas de consultoria e organizações voluntárias que não tinham nada a ver com a África, até que meu dinheiro acabou. Tive que voltar para Boston e ficar com minha irmã, onde tinha comida e abrigo, mas era longe de onde os empregos podiam estar. Além disso, passava por um caso sério de choque cultural. Então lá estava eu: quebrado, no inverno, em choque cultural, além de uma crise de meia-idade, apaixonado e tomando antidepressivos.
Consigo brincar agora, mas a dor e o medo era insuportáveis na época. Pela primeira vez em minha vida adulta comecei a orar. Orava muito e com frequência. Prometi que se conseguisse voltar para a África e casar com minha amada, declararia minha submissão a Allah e me tornaria muçulmano.
Consegui um emprego temporário horrível em um depósito que pelo menos pagava pela comida, passagens de ônibus e lavanderia. Depois consegui um melhor, mas embaraçante, como recepcionista em um escritório de aconselhamento na universidade local. Podia ver que os quatro psicólogos yuppies me viam como um fracassado de 42 anos e eu concordava com eles. Por vergonha não contei a ninguém sobre mim, mas quando o telefone não estava tocando com alunos em pânico por causa das provas, lia anúncios de emprego e digitava cartas de candidatura a empregos. Descobri que uma agência governamental estava contratando professores de inglês para o Egito - perto o suficiente - e submeti minha candidatura imediatamente. Uma semana depois outra agência para a qual havia me candidatado seis meses antes me convidou para ir a Washington para entrevistas.
Assim que cheguei a Washington liguei para os empregos de professor de inglês para ver se conseguia uma entrevista, mas as vagas já estavam preenchidas! Mesmo assim pedi para me encontrar com eles, no caso de algo aparecer depois. Consegui a entrevista e lá me disseram: "A propósito, existe uma vaga a ser aberta em breve, mas é na Somália."
"Somália!" Quase gritei. "Isso é maravilhoso!"
"É?" me perguntou ela, de forma incrédula.
"Com certeza. Adoraria ir para lá. Já estou familiarizado com a cultura e a religião" disse em voz alta, mas pensando comigo mesmo que era apenas uma hora de Mogadício até Nairóbi e que, talvez, conseguisse encontrar meus futuros familiares. Dei a ela minhas referências e ela conhecia todas pessoalmente. Ele ligaria para eles e no que dependesse dela, se eu quisesse o emprego, provavelmente o teria.
Concluí minhas entrevistas na outra agência. Até me mostraram o cubículo no escritório sem janelas onde eu provavelmente trabalharia e retornei para Boston eufórico. Posso até ter escolha, louvado seja Deus. Mas que escolha era essa: um contrato renovável de um ano em um país quente e poeirento - mas africano - próximo do Oceano Índico, ou um emprego de carreira civil com um plano de pensão em um escritório sem janelas no norte da Virgínia.
Duas semanas depois ela me ligou para oferecer o emprego de diretor do programa de inglês em Mogadício, dizendo que eu teria 48 horas para pensar. Todos disseram que não havia o que pensar. Devia aceitar o emprego de carreira com pensão em Washington ou voltaria à estaca zero em um ano ou dois. Argumentei que era um africanista, a experiência me ajudaria e faria bons contatos. Aceitei o emprego e comecei a tomar minhas vacinas. Duas semanas depois a outra agência me enviou uma nota, sem explicação, informando que eu não tinha conseguido o emprego sem janelas.
Alhamdulillah, poderia ter facilmente terminado sem nenhum deles, mas Allah havia me guiado para a decisão certa. Estava empregado e provavelmente prestes a me casar. Avisei na universidade e no último dia escrevi uma carta para os psicólogos informando-os que estava partindo para assumir uma posição como diretor de um projeto na embaixada dos Estados Unidos na Somália, assinado M. Mould, Ph.D.
Claro que tinha que parar em Nairóbi por alguns dias a caminho de Mogadício, onde tive um reencontro com muitas lágrimas com a irmã somali. Tentei fazer alguns planos futuros, mas o problema é que havia sido contratado como solteiro, o que significava que não havia benefícios para a família ou acomodações. Além disso, não tinha ideia de como seria a Somália ou o meu emprego ou por quanto tempo ficaria lá. Pensei que poderia visitar com frequência e havia sempre o telefone. Da mesma forma, ela poderia vir visitar a família, a quem não via desde a infância.
O emprego era interessante, um pouco de ensino, mas principalmente administração e gerenciamento e lidar com funcionários da embaixada. A maioria de meus próprios alunos eram funcionários de alto nível do governo e uns poucos se tornaram bons amigos. Fora do trabalho era uma história completamente diferente. A cultura e atmosfera na Somália urbana era mais próxima do Oriente Médio do que da África. Durante meus sete anos em Uganda e Quênia conhecia os idiomas e as pessoas eram abertas e amigáveis. Nunca tive problemas para me ajustar ou circular. Sempre tinha me sentido completamente em casa. Mogadício me deu um choque cultural. Não conhecia o idioma, ninguém sabia suaíli e os somalis educados falavam italiano, não inglês. Todos os avisos estavam em somali. O pior eram as comunicações. Os telefones residenciais estavam sobrecarregados e o posto telefônico era terrivelmente quente. O único serviço eficiente era o serviço telegráfico. O correio era totalmente duvidoso, exceto para o corpo diplomático. Às vezes era quase impossível contatar Nairóbi.
Não me entenda mal. Estava muito feliz lá, desfrutando das paisagens e cheiros, da comida italiana e somali, minhas visões do oceano, que podia alcançar a pé de minha casa e do meu escritório, descobrindo uma nova cultura. Morava no centro em uma das seções mais antigas, atrás da embaixada italiana, e era acordado cedo pela manhã por um belo adhan do alto-falante de uma mesquita próxima. Trabalhávamos em um cronograma muçulmano: de domingo a quinta-feira, das 7 às 15 horas. Às sextas circulava e frequentemente me encontrava do lado de fora da pequena mesquita atrás da embaixada americana e, enquanto o incenso exalava dos portões de entrada nas vielas, parava e ouvia os sons da Jumu’ah.
Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 5 de 5)
Descrição: Depois de uma jornada espiritual de quase 40 anos, um linguista judeu de Boston encontra o Islã na África. Parte 5.
- Por Dr. Moustafa Mould
- Publicado em 09 Feb 2015
- Última modificação em 09 Feb 2015
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A primeira coisa que notei foi o murmúrio de muitas vozes de homens lendo o Alcorão, enquanto esperavam pelo imame (líder da congregação) dar a khutbah. Fui instantaneamente transportado em minha mente para a antiga sinagoga e os sussurros idênticos de homens idosos lendo dos Salmos (Zabur) no início das orações da manhã. Deu-me um sentimento confortante de nostalgia. Um pouco depois, caminhando na outra direção, podia ouvir o imame recitando a surata. Soava muito parecido com as leituras do Torá das quais desfrutava nas manhãs de sábado, mais uma vez confortante e nostálgico. Não que isso tenha me feito querer retornar para qualquer sinagoga. Ao contrário, fez o Islã mais confortável e familiar para mim.
Sou um linguista e tinha sido especialista em pesquisa de campo. Encontrei um livro para aprender o idioma somali e contratei um tutor para mim, que era melhor como amigo do que como professor. Rapidamente aprendi as saudações, substantivos comuns, verbos, termos de parentesco, números e as horas. Parte do vocabulário, emprestado do árabe, era como o suaíli e o hebraico. O somali também era relacionado de forma bem distante às línguas semitas. A gramática era diferente, entretanto. Muito difícil de captar e quando fiquei mais ocupado e cansado com o trabalho, nossas lições se transformaram mais em conversas sobre cultura, política e religião. Ele tinha conhecimento suficiente para distinguir entre o Islã genuíno e alguns aspectos dominantes da cultura pré-islâmica nativa e supersticiosa que havia me incomodado.
Logo ofereceu para trazer um sheik à minha casa para que eu pudesse professar a shahada. Apesar de tudo ainda me sentia hesitante, pensando em minha família. Mas estavam a milhares de milhas de distância e eu estava vivendo confortavelmente em uma sociedade muçulmana. Tinha bons amigos e colegas e estava claro para mim que muito da bondade deles era devida ao Islã. Pedi a ele para trazer o sheik e ele o fez. Ele me perguntou sobre minhas crenças, disse a ele que tinha sido judeu, não cristão (sem problemas com a trindade) e que há muito tempo tinha largado o porco, álcool, jogo e zina e depois que ele estava convencido de que eu entendia o que estava prestes a dizer e sabia os cinco pilares, declarei a shahada. Minha noiva havia sugerido o nome Mustafa, do qual gostei muito.
Depois de toda a hesitação e procrastinação senti um alívio enorme e restaurei o senso de pertencimento que tinha perdido mais do que havia percebido. Todos os meus amigos somalis estavam, claro, muito contentes e me deram muito apoio. Começaram a me chamar de seedi ("cunhado"). Assim que consegui escapar comprei algumas joias de ouro e voei para Nairóbi. Para me casar tinha que ir ao escritório do qadi chefe e declarar a shahada de novo diante de algumas testemunhas, para obter um certificado oficial de conversão, já que não havia isso na Somália.
Fomos ao qadi e fizemos nosso nikah. Em alguns dias tinha que voar de volta para Mogadício para continuar meu trabalho. Menos de um ano depois, aos 43, fiquei cheio de alegria e fui abençoado por Deus ao me tornar pai de um maravilhoso menino muçulmano. Voei para Nairóbi e após uma breve discussão concordamos com a sugestão de minha esposa para um nome. Agora eu até tinha uma kunya (apelido). Era Abu Khalid e ele recebeu o nome em homenagem ao grande companheiro, Khalid Ibn Al-Walid, que Allah esteja satisfeito com ele.
Você provavelmente está se perguntando se contei à minha família sobre minha conversão ao Islã e a resposta é não, por um bom tempo. É claro que contei à minha família sobre meu casamento e eles não ficaram nem surpresos ou zangados.
Era um homem de meia-idade que devia saber o que estava fazendo e estavam felizes por minha felicidade. Quando Khalid nasceu ficaram encantados de forma positiva e estavam ansiosos para encontrá-lo e à mãe dele. Quando Khalid estava com pouco mais de um ano, fui para Boston em minhas férias e levei minha esposa e filho comigo. Os dois meninos, Ali e Yusuf, estavam fora em um internato muçulmano no nordeste do Quênia.
A recepção foi calorosa e adorável já que todos queriam que tivéssemos uma grande visita. Não há dúvida de que um bebê, especialmente um neto, tem um efeito muito salutar e benéfico sobre as pessoas. Minha esposa tinha trazido pequenos presentes para minha mãe, irmã e tias e todas tinham pequenos presentes para ela. Suponho que todos presumira, como eu havia feito, que o muçulmano pode se casar com um judeu ou cristão. Sabiam que minha esposa e nossos filhos eram muçulmanos e que Khalid estava sendo educado como muçulmano e não tinham problemas com isso. Sabiam que eu não tinha sido um judeu praticamente por quase trinta anos e havia me casado com uma não judia antes. Tinha decidido que se perguntassem eu não mentiria e se não perguntassem eu esperaria por um momento mais oportuno - alguma outra hora. Alguns anos atrás finalmente me perguntaram e contei a eles. Não posso dizer que ficaram satisfeitos, mas também não ficaram surpresos, zangados ou frios comigo e continuamos a ter relações calorosas e amáveis.
Outro ano, outro contrato se foi e então perdi meu emprego. Como o novo faraó "que não conhecia José", chegou um novo diretor que não viu valor nos programas de inglês e decidiu terminá-los. De certa forma já esperava e tinha me inscrito para um emprego semelhante no Iêmen e, por isso, não lutei muito. Mas no fim o emprego em Sana não foi adiante e, como minha família havia predito, estava de volta à estaca zero - bem, não exatamente.
Em 1988 deixei minha família em Nairóbi e retornei para os EUA sozinho e sem emprego. Novamente foi muito difícil (inverno, também), mas dessa vez tinha algumas economias, novas habilidades e um currículo mais forte. Sabia como conseguir um emprego, conhecia Washington e tinha alguns contatos. Ainda tinha o terno. O melhor de tudo, tinha minha fé, ao invés de antidepressivos. Rapidamente consegui dois empregos part-time como professor e um emprego em uma loja para homens. Os empregos como professor não foram adiante e vendi ternos em tempo integral por mais de três anos, sempre procurando um emprego melhor, mas finalmente - levou dois anos - consegui trazer minha família e fizemos o melhor, confiando em Deus.
Então, quatro anos atrás um vizinho muçulmano nos contou sobre um novo instituto islâmico que tinha sido aberto recentemente e que estava procurando por um professor de inglês. Liguei imediatamente, marquei uma reunião e encontrei o diretor. Pela graça de Deus fui contratado para ensinar parte da equipe e fazer algum trabalho editorial. Ironicamente agora estou em um cubículo em um escritório sem janelas no norte da Virgínia, mas que diferença! Estou em um ambiente islâmico, cercado e inspirado por bons irmãos muçulmanos, muitos deles excelentes sábios. Amo e respeito muito todos eles e com eles aprendo diariamente. E qual é meu emprego? Ler livros sobre o Islã, editar manuscritos sobre o Islã, escrever sobre o que li. Em essência, estou sendo pago para estudar o Alcorão, Hadith, aqidah, Fiqh, Sirah, história islâmica e árabe. Agradeço e louvo a Deus todos os dias por me levar para o islã e por me cobrir com todas essas bênçãos. Alhamdulillah Rabbil-alamin.
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