A História de Abraão (parte 1 de 7): Introdução
Descrição: Uma introdução à pessoa de Abraão e à posição elevada que detém no Judaísmo, Cristianismo e Islã.
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- Publicado em 09 Nov 2009
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Um dos profetas que recebe mais atenção no Alcorão é o profeta Abraão. O Alcorão fala dele e de sua inabalável crença em Deus, que primeiro o levou a rejeitar seu povo e sua idolatria e que mais tarde se provou verdadeira através dos vários testes que Deus colocou diante dele.
No Islã Abraão é visto como um monoteísta estrito que chama seu povo para a adoração de Deus somente. Por essa crença ele suporta grandes dificuldades, inclusive se dissociando de sua família e povo através da migração para várias terras. Ele cumpriu vários mandamentos de Deus com os quais foi testado.
Devido a essa força de fé o Alcorão nomeia a única religião verdadeira como o “Caminho de Abraão”, apesar dos profetas antes dele, como Noé, chamarem para a mesma fé. Por causa de seu incansável ato de obediência a Deus, Ele lhe deu um título especial de “Khalil”, ou servo amado, que não foi dado a nenhum outro profeta antes. Devido a excelência de Abraão, Deus fez profetas de sua descendência, dentre eles Ismael, Isaque, Jacó (Israel) e Moisés, que guiaram seu povo para a verdade.
O status elevado de Abraão é compartilhado pelo Judaísmo, Cristianismo e Islã. Os judeus o vêem como o epítome da virtude uma vez que cumpriu os mandamentos antes de serem revelados, e foi o primeiro a se dar conta do Único e Verdadeiro Deus. É visto como o pai da raça escolhida, o pai dos profetas através dos quais Deus começou Sua série de revelações. No Cristianismo é visto como o pai de todos os crentes (Romanos 4:11) e sua confiança em Deus e sacrifício são tomados como um modelo para os santos posteriores (Hebreus 11).
Uma vez que Abraão tem tamanha importância, vale à pena estudar sua vida e investigar aqueles aspectos que o elevaram ao nível que Deus lhe deu.
Embora o Alcorão e a Sunnah não dêem os detalhes de toda a vida de Abraão, eles mencionam certos fatos dignos de nota. Como acontece com outras figuras corânicas e bíblicas, o Alcorão e a Sunnah detalham aspectos de suas vidas como esclarecimento de algumas crenças desencaminhadas de religiões previamente reveladas, ou aqueles aspectos que contém certos lemas e morais dignos de nota e ênfase.
Seu Nome
No Alcorão, o único nome dado a Abraão é “Ibrahim” e “Ibraham”, todos compartilhando a raiz original b-r-h-m. Embora na Bíblia Abraão seja conhecido a princípio como Abrão e seja dito que Deus mudou seu nome para Abraão, o Alcorão mantém silêncio sobre esse assunto, sem afirmá-lo ou negá-lo. Estudiosos judaico-cristãos modernos duvidam, entretanto, da história da mudança de seu nome e seus respectivos significados, chamando-a de “anedota popular”. Assiriólogos sugerem que a letra hebraica Hê (h), no dialeto mineano, é escrita no lugar do ‘a’ longo (ā) e que a diferença entre Abraão e Abrão é meramente dialética.[1] O mesmo pode ser dito dos nomes Sarai e Sara, uma vez que seus significados também são idênticos.[2]
Sua Terra Natal
Estima-se que Abraão nasceu 2.166 anos antes de Jesus na cidade mesopotâmia[3] de Ur[4] ou nos seus arredores, 322 km a sudeste da atual Bagdá[5]. Seu pai era ‘Aazar’, ‘Terá’ ou ‘Terakh’ na Bíblia, um idólatra, que descendia de Sem, o filho de Noé. Alguns estudiosos de exegese sugerem que ele pode ter recebido o nome de Azar por causa de um ídolo do qual era devoto.[6] É provável que tenha sido um acadiano, um povo semita da Península Árabe que se estabeleceu na Mesopotâmia em algum momento do terceiro milênio AEC.
Parece que Azar migrou junto com alguns de seus parentes para a cidade de Haran durante a infância de Abraão antes do confronto com seu povo, embora algumas tradições[7] judaico-cristãs digam que isso ocorreu em um período posterior em sua vida, depois de ele ser rejeitado em sua cidade natal. Na Bíblia é dito que Haran, um dos irmãos de Abraão, morreu em Ur, “na terra de sua natividade” (Gênesis 11:28), mas ele era muito mais velho que Abraão, uma vez que seu outro irmão Nahor toma a filha de Haran como sua esposa (Gênesis 11:29). A Bíblia também não menciona a migração de Abraão para Haran e o primeiro comando para migrar é para sair de Haran, como se tivessem se estabelecido lá antes (Gênesis 12:1-5). Se tomarmos o primeiro mandamento como sendo a emigração de Ur para Canaã, parece não haver razão para que Abraão morasse com sua família em Haran, deixando seu pai lá e prosseguindo para Canaã depois, sem mencionar a improbabilidade geográfica [Ver mapa].
O Alcorão menciona a migração de Abraão, mas o faz depois de Abraão se dissociar de seu pai e tribo devido a sua descrença. Se ele estivesse em Ur naquela época, parece improvável que seu pai fosse com ele para Haran depois de descrer nele e torturá-lo com seu povo. Com relação ao motivo pelo qual escolher migrar, evidência arqueológica sugere que Ur era uma grande cidade que viu seu apogeu e declínio durante o tempo de vida de Abraão[8], e pode ser que tenham sido forçados a partir devido a dificuldades ambientais. Podem ter escolhido Haran devido ao fato de compartilharem a mesma religião que em Ur[9].
A Religião da Mesopotâmia
Descobertas arqueológicas da época de Abraão traçam um retrato vívido da vida religiosa da Mesopotâmia. Seus habitantes eram politeístas que acreditavam em um panteão, no qual cada deus tinha uma esfera de influência. O grande templo dedicado ao deus lua acadiano[10], Sin, era o centro principal de Ur. Haran também tinha a lua como figura divina central. Acreditava-se que esse templo era o lar físico de Deus. O deus principal do templo era um ídolo de madeira com ídolos adicionais, ou ‘deuses’, para servi-lo.
Conhecimento de Deus
Embora os estudiosos judaico-cristãos difiram em relação a quando Abraão veio a conhecer Deus, se na idade de três, dez ou quarenta e oito[11], o Alcorão não menciona a idade exata na qual Abraão recebeu sua primeira revelação. Parece, entretanto, que foi quando ele era jovem, já que o Alcorão o chama de rapaz quando seu povo tenta executá-lo por rejeitar seus ídolos e o próprio Abraão disse ter conhecimento não disponível para seu pai quando o chamou para adorar somente a Deus antes de seu chamado para se separar de seu povo (19:43). O Alcorão é claro, entretanto, em dizer que ele era um dos profetas para quem a escritura foi revelada:
“Em verdade, isto se acha nos Livros primitivos, Nos Livros de Abraão e de Moisés.” (Alcorão 87:18-19)
Footnotes:
[1] Abraham (Abraão). Enciclopédia Católica, Volume I. Copyright © 1907 Robert Appleton Company. Edição Online Copyright © 2003 K. Knight Nihil Obstat, 1 de Março, 1907. Remy Lafort, S.T.D., Censor. Imprimatur. +John Cardinal Farley, Arcebispo de Nova Iorque. (http://www.newadvent.org/cathen/01051a.htm)
[2] Sarah. Enciclopédia Católica, Volume I. Copyright © 1907 Robert Appleton Company. Edição Online Copyright © 2003 K. Knight Nihil Obstat, March 1, 1907. Remy Lafort, S.T.D., Censor. Imprimatur. +John Cardinal Farley, Arcebispo de Nova Iorque.) (Abraham. Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. Enciclopédia Judaica.
[3] Mesopotâmia: Uma antiga região do sudeste da Ásia entre os rios Tigre e Eufrates onde é hoje o Iraque. Provavelmente se estabeleceu antes de 5000 A.C., a área foi o lar de várias civilizações primitivas, incluindo os sumérios, acadianos, babilônios e os assírios.” (The American Heritage® Dictionary of the English Language, Quarta Edição Copyright © 2000 Houghton Mifflin Company.)
[4] O ancestral do povo hebreu, Abrão, como nos é dito, nasceu em “Ur dos caldeus.” “Caldeus” é uma má tradução do hebraico Kasdim. Kasdim é o nome dos babilônios no Velho Testamento, enquanto que os caldeus eram uma tribo que vivia na costa do Golfo Pérsico, e não fez parte da população babilônica até o tempo de Exéquias. Ur era uma das mais antigas e famosas cidades babilônicas. Seu local agora se chama Mugheir, ou Mugaiar, na margem ocidental do Eufrates, no sul da Babilônia. (Dicionário Bíblico de Easton de 1897). Alguns estudiosos judaico-cristãos dizem que “Ur-Kasdim” mencionada na Bíblia não é Ur, mas a cidade de Ur-Kesh, localizada no norte da Mesopotâmia e próxima de Haran (From Abraham to Joseph - The historical reality of the Patriarchal age (De Abraão a José – a realidade histórica do período patriarcal, em traduçãolivre)). Claus Fentz Krogh. (http://www.genesispatriarchs.dk/patriarchs/abraham/abraham_eng.htm).
[5] Ibn Asakir, um famoso estudioso e historiador muçulmano, também autenticou essa opinião e disse que ele nasceu na Babilônia. Ver “Qisas al-Anbiyaa” ibn Katheer.
[6] Histórias dos Profetas, ibn Katheer. Darussalam Publications.
[7] Uma vez que são poucos os detalhes sobre a vida de Abraão na Bíblia, muito do que comumente se acredita sobre Abraão vêm de várias tradições judaico-cristãs, coletadas no Talmude e outros escritos rabínicos. Muito do que é mencionado na Bíblia assim como em outras tradições são consideradas lendas entre os estudiosos judaico-cristãos, muitas das quais não podem ser fundamentadas. (Abraham (Abraão). Enciclopédia Católica, Volume I. Copyright © 1907 Robert Appleton Company. Edição Online Copyright © 2003 K. Knight Nihil Obstat, 1 de Março, 1907. Remy Lafort, S.T.D., Censor. Imprimatur. +John Cardinal Farley, Arcebispo de Nova Iorque.) (Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. Enciclopédia Judaica. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=360&letter=A#881)
[8] (http://www.myfortress.org/archaeology.html)
[9] (http://www.myfortress.org/archaeology.html)
[10] Acádia: “Uma região antiga da Mesopotâmica que ocupava o norte da Babilônia.”
(The American Heritage® Dictionary of the English Language, Quarta
Edição
Copyright © 2000 Houghton Mifflin Company.)
[11] Gen R. xxx. Abraham. Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. Enciclopédia Judaica. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=360&letter=A#881).
A História de Abraão (parte 2 de 7): Chamado para Seu Povo
Descrição: Abraão convida seu pai Azar (Terá ou Terakh na Bíblia) e nação à Verdade revelada a ele por seu Senhor.
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Abraão e Seu Pai
Como aqueles ao seu redor, o pai de Abraão, Azar (Terá ou Terakh na Bíblia), era um idólatra. A tradição[1] bíblica fala dele como sendo um escultor de ídolos[2] e por essa razão o primeiro chamado de Abraão foi direcionado para ele. Dirigiu-se a ele com lógica clara e bom senso, do ponto de vista de um homem jovem e sábio.
“E menciona, no Livro, (a história de) Abraão; ele foi um homem de verdade, e um profeta. Ele disse ao seu pai: Ó meu pai, por que adoras quem não ouve, nem vê, ou que em nada pode valer-te? Ó meu pai, tenho recebido algo da ciência, que tu não recebeste. Segue-me, pois, que eu te conduzirei pela senda reta!” (Alcorão 19:41-43)
A resposta de seu pai foi rejeição, uma resposta óbvia vinda de qualquer pessoa desafiada por outra muito mais jovem que ela, um desafio contra anos de tradição e normas.
“Disse-lhe (o pai): Ó Abraão, porventura detestas as minhas divindades? Se não desistires, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim!” (Alcorão 19:46)
Abraão e Seu Povo
Depois de incessantes tentativas de chamar seu pai para deixar de adorar falsos ídolos, Abraão se voltou para seu povo buscando adverti-lo, dirigindo-se a eles com a mesma lógica simples.
“E recita-lhes (ó Mensageiro) a história de Abraão. Quando perguntou ao seu pai e ao seu povo: O que adorais? Responderam-lhe: Adoramos os ídolos, aos quais estamos consagrados. Tornou a perguntar: Acaso vos ouvem quando os invocais? Ou, por outra, podem beneficiar-vos ou prejudicar-vos? Responderam-lhe: Não; porém, assim encontramos a fazer os nossos pais. Disse-lhes: Porém, reparais, acaso, no que adorais, vós e vossos antepassados? São inimigos para mim, coisa que não acontece com o Senhor do Universo, Que me criou e me ilumina. Que me dá de comer e beber. Que, se eu adoecer, me curará. Que me dará a morte e então me ressuscitará.”(Alcorão 26:69-81)
Ao prosseguir com seu chamado de que a única divindade merecedora de adoração era Deus, o Todo-Poderoso, apresentou outro exemplo para que seu povo ponderasse. A tradição judaico-cristã conta uma história semelhante, mas a retrata no contexto do próprio Abraão se dando conta da existência de Deus através da adoração desses seres[3], e não de usá-la como exemplo para seu povo. No Alcorão não é dito que nenhum dos profetas associou outros a Deus, mesmo quando não estavam informados do caminho correto antes de iniciarem sua missão profética. O Alcorão fala de Abraão:
“E quando viu despontar o sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Alcorão 6:76)
Abraão apresentou-lhes o exemplo das estrelas, uma criação incompreensível para os humanos da época, vista como algo maior que a humanidade, e as quais muitas vezes se atribuíam poderes. Mas quando as estrelas se puseram Abraão viu sua inabilidade de aparecerem quando desejassem, e só poderem ser vistas à noite.
Então apresentou o exemplo de algo maior, um corpo celeste mais belo, de maiores dimensões e que podia aparecer durante o dia também!
“Quando viu desapontar a lua, disse: Eis aqui meu Senhor! Porém, quando esta desapareceu, disse: Se meu Senhor não me iluminar, contar-me-ei entre os extraviados.” (Alcorão 6:77)
Então, como exemplo culminante, apresentou um exemplo de algo ainda maior, uma das criações mais poderosas, sem a qual a própria vida seria uma impossibilidade.
“E quando viu despontar o sol, exclamou: Eis aqui meu Senhor! Este é maior! Porém, quando este se pôs, disse: Ó povo meu, não faço parte da vossa idolatria!” (Alcorão 6:78-79)
Abraão lhes provou que o Senhor dos mundos não seria encontrado nas criações que seus ídolos representavam, mas que Ele era a entidade que os havia criado e a tudo que pudessem ver e perceber; que o Senhor não necessariamente precisava ser visto para ser adorado. Ele é um Senhor que não está restrito às limitações que as criações encontradas nesse mundo estão. Sua mensagem era simples:
“E recorda-te de Abraão, quando disse ao seu povo: Adorai a Deus e temei-O! isso será melhor para vós, se o compreendeis! Qual, somente adorais ídolos, em vez de Deus, e inventai calúnias! Em verdade, os que adorais, em vez de Deus, não podem proporcionar-vos sustento. Procurai, pois, o sustento junto a Deus, adorai-O e agradecei-Lhe, porque a Ele retornareis.”(Alcorão 29:16-17)
Ele questionou abertamente sua aderência a meras tradições de seus antepassados:
“Ele disse: Verdadeiramente, vós e vossos antepassados estão em erro evidente.”
O caminho de Abraão seria cheio de dor, dificuldades, testes, oposições e dores de cabeça. Seu pai e seu povo rejeitaram sua mensagem. Seu chamado não os afetou; não queriam argumentar. Ao invés disso, ele foi desafiado e ironizado:
“Disseram: Traga-nos a verdade, ou és um gracejador?”
Nesse estágio de sua vida, Abraão, um homem jovem com um futuro promissor, se opôs à sua própria família e nação para propagar uma mensagem de verdadeiro monoteísmo, crença no Único e Verdadeiro Deus, e rejeição a todas as falsas deidades, fossem estrelas ou outras criações celestiais ou terrenas, ou retratações de deuses na forma de ídolos. Foi rejeitado, banido e punido por sua crença, mas se manteve firme contra todo o mal, pronto para enfrentar ainda mais no futuro.
“E quando o seu Senhor pôs à prova Abraão, com certos mandamentos,...” (Alcorão 2:124)
Footnotes:
[1] Gên r. xxxviii, Tanna debe Eliyahu. Ii. 25.
[2] Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=360&letter=A#881)
[3] The Talmud: Selections (Talmude: Seleções, em tradução livre), H. Polano. (http://www.sacred-texts.com/jud/pol/index.htm).
A História de Abraão (parte 3 de 7): O Iconoclasta
Descrição: Abraão destrói os ídolos de seu povo para provar-lhes a futilidade de sua adoração.
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Veio o momento no qual a pregação tinha que estar acompanhada de ação física. Abraão planejou um ataque corajoso e decisivo na idolatria. O relato corânico é ligeiramente diferente do mencionado nas tradições judaico-cristãs, porque dizem que Abraão destruiu os ídolos pessoais de seu pai.[1] O Alcorão nos diz que ele destruiu os ídolos de seu povo, mantidos em um altar religioso. Abraão idealizou um plano envolvendo os ídolos:
“Por Deus que tenho um plano para os vossos ídolos, logo que tiverdes partido.” (Alcorão 21:57)
Era a época de um festival religioso, talvez dedicado a Sin, razão pela qual tinham deixado a cidade. Abraão foi convidado para participar das festividades, mas apresentou uma desculpa:
“Ele olhou para as estrelas. E disse: Sinto-me doente.”
Então, quando partiram sem ele, veio sua oportunidade. Como o templo estava deserto, Abraão foi até lá e se aproximou dos ídolos de madeira revestidos em ouro, que tinham à sua frente refeições elaboradas deixadas pelos sacerdotes. Abraão ironizou-os em descrença:
“Então se voltou para seus deuses e disse: Não comerão? O que os incomoda que não falam?”
O que teria iludido um homem para que adorasse deuses que ele mesmo esculpiu?
“Então os atacou, batendo-lhes com sua mão direita.”
O Alcorão nos diz:
“Ele os reduziu a fragmentos, todos exceto o mais importante deles.”
Quando os sacerdotes do templo retornaram ficaram chocados ao ver o sacrilégio, a destruição do templo. Estavam se perguntando quem teria feito aquilo com seus ídolos quando alguém mencionou o nome de Abraão, explicando que ele costumava falar mal deles. Quando o chamaram à sua presença, coube a Abraão mostrar-lhes sua tolice:
“Ele disse: Adorais o que vós mesmo esculpis quando Deus vos criou e ao que fazeis?”
Cada vez mais irados e sem disposição para ouvir sermões, foram direto ao ponto:
“Foste tu que fizeste isso com nossos deuses, Abraão?”
Mas Abraão havia deixado o maior dos ídolos intocado por uma razão:
“Ele disse: Mas esse, seu chefe, fez isso. Questione-os, se puderem falar!”
Quando Abraão os desafiou, ficaram confusos. Culparam-se mutuamente por não terem protegido os ídolos e, sem encará-lo, disseram:
“De fato, sabeis que eles não falam!”
Então Abraão argumentou.
“Ele (Abraão) disse: Porventura, adorareis, em vez de Deus, quem não pode beneficiar-vos ou prejudicar-vos em nada? Que vergonha para vós e para os que adorais, em vez de Deus! Não raciocinais?”
Os acusadores se transformarem em acusados. Foram acusados de inconsistência lógica, e não tiveram resposta para Abraão. Como o raciocínio de Abraão era incontestável, sua resposta foi ódio e fúria, e condenaram Abraão a ser queimado vivo:
“Preparai para ele uma fogueira e arrojai-o no fogo!”
Todas as pessoas da cidade ajudaram a juntar a madeira para o fogo, até que se transformou no maior fogo que tinham visto. O jovem Abraão se submeteu ao destino o Senhor dos Mundos escolheu para ele. Não perdeu sua fé. Ao contrário, o teste o fez mais forte. Abraão não vacilou em face de uma morte terrível apesar de sua pouca idade; ao contrário, suas últimas palavras antes de entrar no fogo foram:
“Deus é suficiente para mim e Ele é o melhor para cuidar de todos os assuntos.” (Saheeh Al-Bukhari)
Mais uma vez um exemplo de Abraão diante dos testes que enfrentou. Sua crença no Verdadeiro Deus foi testada aqui, e ele provou que estava preparado para entregar sua existência ao chamado de Deus. Sua crença foi evidenciada por sua ação.
Deus não queria que esse fosse o destino de Abraão, porque ele tinha uma grande missão à sua frente. Ele seria o pai de alguns dos maiores profetas conhecidos da humanidade. Deus salvou Abraão como um sinal para ele e também para seu povo.
“Nós (Deus) dissemos: Ó fogo, sê frescor e poupa Abraão! Intentaram conspirar contra ele, porém, fizemo-los perdedores.”
Assim, Abraão escapou do fogo ileso. Tentaram buscar revanche para seus deuses, mas eles e seus ídolos foram humilhados no final.
A História de Abraão (parte 4 de 7): Sua Migração para Canaã
Descrição: A disputa de Abraão com um rei e o comando de Deus para migrar para Canaã.
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Descobertas arqueológicas modernas sugerem que a alta sacerdotisa era a filha do imperador. Naturalmente ela deve ter considerado fundamental fazer um exemplo do homem que profanou seu templo. Logo Abraão, ainda um homem jovem[1], se viu em teste, se defrontando sozinho com um rei, provavelmente o rei Nimrod. Até seu pai não estava do seu lado. Mas Deus estava como Ele sempre esteve.
Disputa com um Rei
Enquanto os tradicionalistas judaico-cristãos afirmam claramente que Abraão foi sentenciado ao fogo pelo reio, Nimrod, o Alcorão não elucida esse assunto. Menciona, entretanto, a disputa que um rei teve com Abraão, e alguns estudiosos muçulmanos sugerem que foi esse mesmo Nimrod, mas somente depois de uma tentativa de matar Abraão[2] ser feita pelas massas. Depois de Deus ter salvado Abraão do fogo, seu caso foi apresentado ao rei, que do alto de sua pompa, disputou com o próprio Deus por causa de seu reino. Ele debateu com o jovem homem, como Deus nos conta:
“Não reparaste naquele que disputava com Abraão acerca de seu Senhor, por lhe haver Deus concedido o poder?” (Alcorão 2:258)
A lógica de Abraão era inegável:
“Meu Senhor é Quem dá a vida e a morte! Retrucou: Eu também dou a vida e a morte.” (Alcorão 2:258)
O rei trouxe dois homens sentenciados à morte. Libertou um e condenou outro. Essa resposta do rei foi fora de contexto e extremamente estúpida e assim Abraão apresentou outra, que certamente o silenciou.
“Abraão disse: Deus faz sair o sol do Oriente, faze-o tu sair do Ocidente. Então o incrédulo ficou confundido, porque Deus não ilumina os iníquos.” (Alcorão 2:258)
Abraão em Migração
Depois de anos de chamado incessante, enfrentando a rejeição de seu povo, Deus ordenou a Abraão que se desassociasse de sua família e povo.
“Tivestes um excelente exemplo em Abraão e naqueles que o seguiram, quando disseram ao seu povo: Em verdade, não somos responsáveis por vossos atos e por tudo quando adorais, em lugar de Deus, Renegamos-vos e iniciar-se-á inimizade e um ódio duradouro entre nós e vós, a menos que creiais unicamente em Deus!” (Alcorão 60:4)
Ao menos duas pessoas em sua família aceitaram sua exortação – Lot, seu sobrinho, e Sara, sua esposa. Assim Abraão migrou com os outros crentes.
“Lot acreditou nele. Ele disse: Em verdade, emigrarei para onde me ordene o meu Senhor, porque Ele é o Poderoso, o Prudentíssimo.” (Alcorão 29:26)
Migraram juntos para uma terra abençoada, a terra de Canaã, ou Grande Síria onde, de acordo com as tradições judaico-cristãs, Abraão e Lot dividiram seu povo a ocidente e oriente da terra para a qual haviam migrado[3].
“E o salvamos, juntamente com Lot, conduzindo-os à terra que abençoamos para a humanidade.” (Alcorão 21:71)
Foi lá, nessa terra abençoada, que Deus escolheu abençoar Abraão com descendência.
“E o agraciamos com Isaac e Jacó, como um dom adicional, e a todos fizemos virtuosos.” (Alcorão 21:72)
“Tal foi o Nosso argumento, que proporcionamos a Abraão (para usarmos) contra seu povo, porque Nós elevamos a dignidade de quem Nos apraz. Teu Senhor (ó Muhammad) é Prudente, Sapientíssimo.Agraciamo-los com Isaac e Jacó, que iluminamos, como havíamos iluminado anteriormente Noé e sua descendência, Davi e Salomão, Jó e José, Moisés e Aarão. Assim, recompensamos os benfeitores.E Zacarias, Yáhia (João), Jesus e Elias, pois todos se contavam entre os virtuosos. E Ismael, Eliseu, Jonas e Lot, cada um dos quais preferimos sobre os seus contemporâneos. E a alguns de seus pais, progenitores e irmãos, elegemo-los e os encaminhamos pela senda reta. Tal é a orientação de Deus, pela qual orienta quem Lhe apraz, dentre os Seus servos. Porém, se tivessem atribuído parceiros a Ele, tornar-se-ia sem efeito tudo o que tivessem feito. São aqueles a quem concedemos o Livro, a sabedoria e a profecia.” (Alcorão 6:83-89)
Profetas, escolhidos para a orientação de sua nação:
“E os designamos imames, para que guiassem os demais, segundo os Nossos desígnios, e lhes inspiramos a prática do bem, a observância da oração, o pagamento do zakat, e foram Nossos adoradores.” (Alcorão 21:73)
Footnotes:
[1] Tradições judaico-cristãs dizem que ele tinha cinquenta anos de idade. The Talmud: Selections(Talmude: Seleções, em tradução livre), H. Polano. (http://www.sacred-texts.com/jud/pol/index.htm)
[2] Stories of the Prophets (Histórias dos Profetas, em tradução livre). Ibn Katheer. Darussalam Publications.
[3] Jewish Encyclopedia: Abraham (Enciclopédia Judaica: Abraão)
A História de Abraão (parte 5 de 7): A Doação de Agar e Seu Sofrimento
Descrição: Alguns relatos da jornada de Abraão ao Egito, o nascimento de Ismael e a aventura de Agar em Paran.
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Abraão em Canaã e Egito
Abraão ficou em Canaã por vários anos indo de cidade em cidade pregando e convidando as pessoas para Deus até que a fome fez com que ele e Sara migrassem para o Egito. No Egito estava um faraó despótico que tinha um desejo passional de tomar posse de mulheres casadas.[1] Esse relato islâmico é surpreendentemente diferente das tradições judaico-cristãs, que dizem que Abraão alegou que Sara[2] era sua irmã para se salvar do Faraó[3]. O Faraó levou Sara para seu harém e honrou Abraão por isso, mas quando sua casa foi atingida por várias pragas ele soube que Sara era esposa de Abraão e o castigou por ele não ter lhe dito isso, banindo-o do Egito. [4]
Abraão sabia que Sara atrairia sua atenção, então disse a ela que se o Faraó perguntasse, ela dissesse que era irmã de Abraão. Quando entraram em seu reino, como esperado, o Faraó perguntou sobre seu relacionamento com Sara e Abraão respondeu que ela era sua irmã. Embora a resposta tenha aliviado um pouco de sua paixão, ainda assim ele a fez cativa. Mas a proteção do Todo-Poderoso a salvou de sua trama.Quando o Faraó convocou Sara para agir de acordo com suas paixões doentias, Sara se voltou para Deus em oração. No momento em que o Faraó se aproximou de Sara, a parte superior de seu corpo se enrijeceu. Ele chorou para Sara em desespero, prometendo libertá-la se ela orasse por sua cura! Ela orou pela cura dele. Mas apenas depois de uma terceira tentativa fracassada ele finalmente desistiu. Ao perceber suas naturezas especiais, ele a deixou partir e a retornou a seu suposto irmão.
Sara retornou enquanto Abraão ainda orava, acompanhada de presentes do Faraó, uma vez que ele tinha se dado conta de suas naturezas especiais, junto com sua própria filha Agar, de acordo com as tradições judaico-cristãs, como criada[5]. Ela havia transmitido uma mensagem poderosa para o Faraó e os egípcios pagãos.
Depois de retornarem para a Palestina, Sara e Abraão continuaram sem filhos, apesar das promessas divinas de que ele teria um filho. O costume da esposa estéril presentear o marido com uma criada para gerar descendência parece ser uma prática comum daquela época[6], e Sara sugeriu a Abraão que ele tomasse Agar como sua concubina. Alguns estudiosos cristãos dizem que de fato ele a tomou como esposa[7]. Qualquer que seja o caso, na tradição judaica e babilônica qualquer descendência nascida de uma concubina seria reivindicada pelo ex-ama da concubina e seria tratada exatamente como uma criança nascida dela[8], inclusive em questões de herança. Enquanto estava na Palestina, Agar deu a ele um filho, Ismael.
Abraão em Meca
Quando Ismael estava sendo amamentado Deus escolheu testar a fé de seu amado Abraão e ordenou-o levar Agar e Ismael para um vale deserto de Beca a 1.300 km ao sul de Hebron. Tempos mais tarde se chamaria Meca. De fato era um grande teste, porque ele e sua família tinham esperado por muito tempo por uma descendência e quando seus olhos estavam cheios de alegria por causa de um herdeiro, veio a ordem para levá-lo para uma terra distante, conhecida por sua aridez e dificuldade.
Embora o Alcorão afirme que esse era outro teste para Abraão enquanto Ismael ainda era um bebê, a Bíblia e as tradições judaico-cristãs afirmam que foi o resultado da ira de Sara, que pediu a Abraão para banir Agar e o filho dela quando viu Ismael “debochando” [9] de Isaque[10] depois de ser desmamado. Uma vez que a idade típica para o desmame, pelo menos na tradição judaica, era de 3 anos[11], isso sugere que Ismael estava com aproximadamente 17 anos[12] quando esse evento ocorreu. Parece logicamente impossível que Agar fosse capaz de carregar um rapaz em seus ombros e levá-lo por centenas de quilômetros até que ela alcançasse Paran, só então colocando-o no chão, como diz a Bíblia, sob um arbusto[13]. Nesses versos Ismael é tratado por uma palavra diferente da usada descrevendo seu banimento. Essa palavra indica que era um menino muito novo, possivelmente um bebê, ao invés de um rapaz.
Então Abraão, após ter ficado um tempo com Agar e Ismael, deixou-os lá com um cantil de água e uma bolsa de couro cheia de tâmaras. Quando Abraão começou a caminhar deixando-os para trás, Agar ficou ansiosa com o que aconteceria. Abraão não olhou para trás. Agar o seguiu: “Ó Abraão, onde estás indo, deixando-nos nesse vale onde não existe nenhuma pessoa cuja companhia possamos desfrutar, nem qualquer outra coisa?”
Abraão apressou o passo. Finalmente Agar perguntou: “Foi Deus Que pediu que o fizesse?”
Repentinamente Abraão parou, se voltou e disse: “Sim!”
Sentindo um pouco de conforto nessa resposta, Agar perguntou: “Ó Abraão, com quem está nos deixando?”
“Eu os deixo aos cuidados de Deus”, respondeu Abraão.
Agar se submeteu a seu Senhor: “Estou satisfeita em estar com Deus!”[14]
Enquanto voltava para o pequeno Ismael, Abraão prosseguiu até que alcançou uma passagem estreita na montanha onde eles não podiam vê-lo. Ele parou lá e invocou Deus em oração:
“Ó Senhor nosso, estabeleci parte da minha descendência em um vale inculto perto da Tua Sagrada Casa para que, ó Senhor nosso, observem a oração; faze com que os corações de alguns humanos os apreciem, e agracia-os com os frutos, a fim de que Te agradeçam.”(Alcorão 14:37)
Logo a água e as tâmaras acabaram e o desespero de Agar aumentou. Incapaz de saciar sua sede ou amamentar seu pequeno bebê, Agar começou a procurar por água. Deixou Ismael sob uma árvore e começou a escalar o declive rochoso de uma colina próxima. “Talvez exista uma caravana de passagem”, pensou consigo mesma. Ela correu entre as duas colinas de Safa e Marwa sete vezes procurando sinais de água ou ajuda, personificado depois por todos os muçulmanos no Hajj. Exausta e perturbada, ela ouviu uma voz, mas não pode localizar sua origem. Então, olhando para o vale ela viu um anjo, que é identificado como Gabriel nas fontes islâmicas[15], de pé ao lado de Ismael. O anjo cavou o chão com seu calcanhar próximo ao bebê e a água jorrou. Foi um milagre! Agar tentou fazer um reservatório ao seu redor para mantê-lo fluindo e encheu seu cantil.[16] “Não tema ser negligenciada”, disse o anjo, “porque esta é a Casa de Deus que será construída por esse menino e seu pai, e Deus nunca negligencia seu povo.”[17] Esse poço, chamado Zamzam, continua a jorrar até hoje na cidade de Meca na Península Arábica.
Não muito tempo depois a tribo de Jurham, deslocando-se do sul da Arábia, parou no vale de Meca depois de ver um sinal incomum de um pássaro voando em sua direção, que só podia significar a presença de água. Finalmente se estabeleceram em Meca e Ismael cresceu entre eles.
Um relato semelhante desse poço é dado na Bíblia em Gênesis 21. Nesse relato, a razão para se afastar do bebê era evitar vê-lo morrendo ao invés de buscar ajuda. Então, após o bebê começar a chorar de sede, ela pediu a Deus para não permitir que ela o visse morrer. É dito que o surgimento do poço foi uma resposta ao choro de Ismael, e não à súplica dela, e não é relatado nenhum esforço de Agar para encontrar ajuda. A Bíblia também diz que o poço era no deserto de Paran, onde moraram depois disso. Os estudiosos judaico-cristãos com frequência mencionam Paran como em algum lugar ao norte da Península do Sinai, devido à menção ao Monte Sinai em Deuteronômio 33:2. Arqueólogos bíblicos modernos, entretanto, dizem que o Monte Sinai é de fato na atual Arábia Saudita, o que requer que Paran seja lá também.[18]
Footnotes:
[1] Fath al-Bari.
[2] Embora Sara fosse sua meia-irmã de acordo com Gênesis 20:12, fazendo com que seu casamento fosse incestuoso, fontes islâmicas como al-Bukhari, afirmam que essa foi uma das três vezes nas quais Abraão fez uma declaração enganosa, já que Sara era sua irmã na fé e na humanidade, para evitar um mal maior.
[3] Além das tradições, uma história menos detalhada também é mencionada na Bíblia, Gênesis.12.11-20.
[4] Sarah (Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S). Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). Ver também Gênesis: 12:14-20.
[5] Sarah (Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S). Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica).
[6] Pilegesh. Emil G. Hirsch and Schulim Ochser. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=313&letter=P&search=pilegesh).
[7] (http://whosoeverwill.ca/womenscripturehagar.htm, http://www.1timothy4-13.com/files/proverbs/art15.html).
[8] (http://www.studylight.org/com/acc/view.cgi?book=ge&chapter=016).
[9] Gênesis 21:9.
[10] Ishmae (Ismael)l. Isidore Singer, M. Seligsohn, Richard Gottheil e Hartwig Hirschfeld. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=277&letter=I).
[11] 2Mac 7:27, 2 Crônicas 31:16.
[12] Abraão estava com 86 anos no nascimento de Ismael (Gênesis:16:16), e 100 anos no nascimento de Isaque (Gênesis 21:5).
[13] Gênesis 21:15.
[14] Saheeh Al-Bukhari.
[15] Musnad Ahmad
[16] Relato semelhante é mencionado na Bíblia, embora seus detalhes sejam bem diferentes. Ver Gênesis 21:16-19
[17] Saheeh Al-Bukhari
[18]Is Mount SINAI in the SINAI? (O Monte SINAI Fica no SINAI? Em tradução livre) B.A.S.E. Institute. (http://www.baseinstitute.org/Sinai_1.html).
A História de Abraão (parte 6 de 7): O Maior dos Sacrifícios
Descrição: No teste de sua vida, Abraão vê em um sonho que deve sacrificar seu “único filho”, mas era Isaque ou Ismael?
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- Publicado em 14 Dec 2009
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Abraão Sacrifica Seu Filho
Havia quase dez anos que Abraão tinha deixado sua esposa e bebê em Meca aos cuidados de Deus. Depois de uma jornada de dois meses ele ficou surpreso em encontrar Meca muito diferente do que era quando partiu. A alegria da reunião logo foi interrompida por uma visão que seria o teste supremo de sua fé. Deus comandou através de um sonho que Abraão sacrificasse seu filho, o filho que ele tinha tido depois de anos de orações e tinha acabado de encontrar depois de uma década de separação.
Sabemos do Alcorão que a criança a ser sacrificada era Ismael, já que Deus, ao dar as boas novas do nascimento de Isaque a Abraão e Sara, também deu as boas novas de um neto, Jacó (Israel):
“...alvissaramo-la com o nascimento de Isaac e, depois deste, com o de Jacó.” (Alcorão 11:71)
Da mesma forma, no verso bíblico Gênesis 17:19, foi prometido a Abraão:
“Sara, tua mulher, te dará à luz um filho, e lhe chamarás Isaque; com ele estabelecerei o meu pacto como pacto perpétuo para a sua descendência depois dele.”
Como Deus prometeu dar a Sara um filho de Abraão e netos daquela criança, não era lógica e praticamente possível para Deus ordenar que Abraão sacrificasse Isaque, uma vez que Deus não quebra Sua promessa e nem é o “autor de confusão.”
Embora o nome de Isaque seja explicitamente mencionado como aquele que seria sacrificado em Gênesis 22:2, aprendemos de outros contextos bíblicos que essa é uma interpolação clara, e aquele que seria sacrificado era Ismael.
“Teu Único Filho”
Nos versos de Gênesis 22, Deus ordena Abraão sacrificar seu único filho. Todos os estudiosos do Islã, Judaísmo e Cristianismo concordam que Ismael nasceu antes de Isaque. Não faria sentido chamar Isaque de único filho de Abraão.
É verdade que os estudiosos judaico-cristãos argumentam com frequência que como Ismael nasceu de uma concubina, não era filho legítimo. Entretanto, já mencionamos antes que de acordo com o próprio Judaísmo era uma ocorrência comum, válida e aceitável esposas estéreis darem concubinas a seus maridos para gerarem descendência, e a criança produzida pela concubina era reivindicada pela esposa do pai[1], desfrutando todos os direitos como se fosse filho da própria esposa, incluindo herança. Além disso, recebiam o dobro da parte das outras crianças, mesmo que fossem “odiadas” [2] .
Em acréscimo a tudo isso, é inferido na Bíblia que a própria Sara considerava um filho nascido de Agar como seu herdeiro de direito. Sabendo que havia sido prometido a Abraão que sua semente encheria a terra entre o Nilo e o Eufrates (Gênesis 15:18) de seu próprio corpo (Gênesis 15:4), ela ofereceu Agar a Abraão para que ela fosse o meio do cumprimento dessa profecia. Ela disse:
“Eis que o Senhor me tem impedido de ter filhos; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos por meio dela.” (Gênesis 16:2)
Também é semelhante à Léa e Raquel, as esposas de Jacó, filho de Isaque, darem suas servas a Jacó para gerarem descendência (Gênesis 30:3, 6-7, 9-13). Seus filhos foram Dan, Neftali, Gad e Asher, que eram dos doze filhos de Jacó, os pais das doze tribos dos israelitas e, consequentemente, herdeiros[3] válidos.
Disso entendemos que Sara acreditava que uma criança nascida de Agar seria um cumprimento da profecia dada a Abraão, e seria como se tivesse nascido dela própria. Assim, de acordo apenas com esse fato, Ismael não é ilegítimo, mas um herdeiro de direito.
O próprio Deus considera Ismael um herdeiro válido porque, em várias passagens, a Bíblia menciona que Ismael é uma “semente” de Abraão. Por exemplo, em Gênesis 21:13:
“Mas também do filho desta serva farei uma nação, porquanto ele é da tua linhagem.”
Existem muitas outras razões que provam que Ismael e não Isaque deveria ser sacrificado e, se Deus quiser, um artigo separado será dedicado a esse assunto.
Para continuar com o relato, Abraão consultou seu filho para ver se ele compreendia o que lhe foi ordenado por Deus:
“E lhe anunciamos o nascimento de uma criança (que seria) dócil. E quando chegou à adolescência, seu pai lhe disse: Ó filho meu, sonhei que te oferecia em sacrifício; que opinas? Respondeu-lhe: Ó meu pai, faze o que te foi ordenado! Encontrar-me-ás, se Deus quiser, entre os perseverantes!” (Alcorão 37:101-102)
De fato, se o pai diz a uma pessoa que ela deverá ser morta por causa de um sonho, isso não será recebido da melhor maneira. Pode-se duvidar do sonho e também da sanidade da pessoa, mas Ismael conhecia a posição de seu pai. O filho virtuoso de um pai virtuoso estava determinado a se submeter a Deus. Abraão levou seu filho ao lugar onde deveria ser sacrificado e o deitou com o rosto para baixo. Por essa razão, Deus os descreveu com as mais belas palavras, pintando uma imagem da essência da submissão; uma que leva lágrimas aos olhos:
“E quando ambos aceitaram o desígnio (de Deus) e (Abraão) preparava (seu filho) para o sacrifício.” (Alcorão 37:103)
Quando a faca de Abraão estava descendo, uma voz o interrompeu:
“Então o chamamos: Ó Abraão, Já realizaste a visão! Em verdade, assim recompensamos os benfeitores. Certamente que esta foi a verdadeira prova.” (Alcorão 37:104-106)
De fato, foi o maior de todos os testes, sacrificar seu único filho, nascido depois de ter alcançado uma idade avançada e anos de espera por descendência. Aqui Abraão mostrou sua disposição de sacrificar tudo que tinha por Deus, e por essa razão, foi designado um líder de toda a humanidade, aquele a quem Deus abençoou com uma descendência de profetas.
“E quando o seu Senhor pôs à prova Abraão, com certos mandamentos, que ele observou, disse-lhe: Designar-te-ei Imam dos homens. (Abraão) perguntou: E também o serão os meus descendentes?” (Alcorão 2:124)
Ismael foi resgatado com um carneiro:
“...E o resgatamos com outro sacrifício importante.” (Alcorão 37:107)
É esse epítome de submissão e confiança em Deus que centenas de milhões de muçulmanos reencenam todo ano durante os dias do Hajj, um dia chamado Yawm-un-Nahr – O Dia do Sacrifício, ou Eid-ul-Adhaa – ou a Celebração do Sacrifício.
Abraão retornou à Palestina e ao fazê-lo, foi visitado pelos anjos que deram a ele e à Sara as boas novas de um filho, Isaque:
“...viemos alvissarar-te com a vinda de um filho, que será sábio.” (Alcorão 15:53)
Nesse momento também lhe é dito sobre a destruição do povo de Lot.
Footnotes:
[1] Pilegesh. Emil G. Hirsch e Schulim Ochser. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=313&letter=P).
[2] Deuteronômio 21:15-17. Ver também: Primogeniture (Primogenitura). Emil G. Hirsch and I. M. Casanowicz. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=527&letter=P).
[3] Jacob. Emil G. Hirsch, M. Seligsohn, Solomon Schechter e Julius H. Greenstone. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=19&letter=J).
A História de Abraão (parte 7 de 7): A Construção de um Santuário
Descrição: Abraão visita novamente seu filho Ismael, mas dessa vez para cumprir uma tarefa momentosa, a construção de uma Casa de Adoração, um santuário para toda a humanidade.
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Abraão e Ismael Constroem a Caaba
Depois de uma separação de vários anos, mais uma vez pai e filho se encontram. Foi nessa jornada que os dois construíram a Caaba por ordem de Deus como um santuário permanente; um local estabelecido para a adoração de Deus. Foi aqui, no mesmo deserto árido onde Abraão deixou Agar e Ismael anteriormente, que ele suplicou a Deus para fazer dele um lugar onde pudessem estabelecer a oração, livre de idolatria.
"E recorda-te de quando Abraão disse: Ó Senhor meu, pacifica esta Metrópole e preserva a mim e aos meus filhos da adoração dos ídolos! Ó Senhor meu, já se desviaram muitos humanos. Porém, quem me seguir será dos meus, e quem me desobedecer... Certamente Tu és Indulgente, Misericordiosíssimo! Ó Senhor nosso, estabeleci parte da minha descendência em um vale inculto perto da Tua Sagrada Casa para que, ó Senhor nosso, observem a oração; faze com que os corações de alguns humanos os apreciem, e agracia-os com os frutos, a fim de que Te agradeçam. Ó Senhor nosso, Tu sabes tudo quanto ocultamos e tudo quanto manifestamos, porque nada se oculta a Deus, tanto na terra como no céu. Louvado seja Deus que, na minha velhice, me agraciou com Ismael e Isaac! Como o meu Senhor é Exorável! Ó Senhor meu, faze-me observante da oração, assim como à minha prole! Ó Senhor nosso, escuta a minha súplica! Ó Senhor nosso, perdoa-me a mim, aos meus pais e aos fiéis, no Dia da prestação de contas!" (Alcorão 14:35-41)
Agora, anos depois, Abraão mais uma vez reunido com seu filho Ismael, estabelecia a honrada Casa de Deus, o centro de adoração, para cuja direção as pessoas deveriam voltar seus rostos oferecendo orações, tornando-se um local de peregrinação. Existem muitos belos versículos no Alcorão que descrevem a santidade da Caaba e o propósito de sua construção.
"E (recorda-te) de quando indicamos a Abraão o local da Casa, dizendo: Não Me atribuas parceiros, mas consagra a Minha Casa para os circungirantes, para os que permanecem em pé e para os genuflexos e prostrados. E proclama a peregrinação às pessoas; elas virão a ti a pé, e montando toda espécie de camelos, de todo longínquo lugar." (Alcorão 22:26-27)
"Lembrai-vos que estabelecemos a Casa, para o congresso e local de segurança para a humanidade: Adotai a Estância de Abraão por oratório. E estipulamos a Abraão e a Ismael, dizendo-lhes: Purificai Minha Casa, para os circundantes (da Caaba), os retraídos, os que genuflectem e se prostram." (Alcorão 2:125)
A Caaba é o primeiro lugar de adoração apontado para toda a humanidade com o propósito de orientação e bênção:
"A primeira Casa (Sagrada), erigida para o G6enero humano, é a de Bakka, onde reside a bênção servindo de orientação à humanidade. Encerra sinais evidentes; lá está a Estância de Abraão, e quem quer que nela se refugie estará em segurança. A peregrinação à Casa é um dever para com Deus, por parte de todos os seres humanos, que estão em condições de empreendê-la;" (Alcorão 3:96-97)
O Profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, disse:
"De fato esse local foi feito sagrado por Deus no dia em que Ele criou os céus e a terra, e permanecerá assim até o Dia do Juízo." (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)
As Orações de Abraão
A construção de um santuário a ser preservado para todas as gerações posteriores era uma das melhores formas de adoração que homens de Deus podiam fazer. Eles invocaram Deus durante seu feito:
"E quando Abraão e Ismael levantaram os alicerces da Casa, exclamaram: Ó Senhor nosso, aceita-a de nós pois Tu és Oniouvinte, Sapientíssimo. Ó Senhor nosso, permite que nos submetamos a Ti e que surja, da nossa descendência, uma nação submissa à Tua vontade. Ensina-nos os nossos ritos e absolve-nos, pois Tu és o Remissório, o Misericordiosíssimo."(Alcorão 2:127-128)
"E quando Abraão implorou: Ó senhor meu, faze com que esta cidade seja de paz, e agracia com frutos os seus habitantes que crêem em Deus e no Dia do Juízo Final!" (Alcorão 2:126)
Abraão também orou que um profeta surgisse da descendência de Ismael, que seriam os habitantes dessa terra, como a descendência de Isaque habitaria as terras de Canaã.
"Ó Senhor nosso, faze surgir, dentre eles, um Mensageiro, que lhes transmita as Tuas leis e lhes ensine o Livro, e a sabedoria, e os purifique, pois Tu és o Poderoso, o Prudentíssimo." (Alcorão 2:129)
A oração de Abraão por um Mensageiro foi respondida vários milhares de anos depois quando Deus fez surgir o Profeta Muhammad entre os árabes, e como Meca foi escolhida para ser um santuário e Casa de Adoração para toda a humanidade, o Profeta de Meca também foi enviado para toda a humanidade.
Foi esse apogeu da vida de Abraão que foi a conclusão de seu propósito: a construção de um local de adoração para toda a humanidade, não para qualquer raça ou cor escolhida, para a adoração do Único e Verdadeiro Deus. O estabelecimento dessa casa foi a garantia de que Deus, o Deus a Quem ele chamava e para Quem fez intermináveis sacrifícios, seria adorado para sempre, sem a associação com qualquer outro deus. Foi de fato um dos maiores favores concedidos a qualquer humano.
Abraão & e a Peregrinação do Hajj
Anualmente os muçulmanos de todo o mundo se reúnem para responder à oração de Abraão e o chamado para a Peregrinação. O ritual é chamado Hajj, e comemora muitos eventos do amado servo de Deus Abraão e sua família. Depois de circular em torno da Caaba os muçulmanos oram atrás da Estação de Abraão, a pedra na qual Abraão ficou de pé para construir a Caaba. Depois das orações um muçulmano bebe do mesmo poço, chamado Zamzam, que fluiu em resposta à oração de Abraão e Agar, provendo sustento para Ismael e Agar, e foi a causa para a habitação da terra. O ritual de andar entre Safa e Marwah comemora a busca desesperada de Agar por água quando ela e seu bebê estavam sozinhos em Meca. O sacrifício de um animal em Mina durante o Hajj e por muçulmanos em todo o mundo em suas próprias terras, segue o exemplo da disposição de Abraão de sacrificar seu filho em nome de Deus. E por fim, o apedrejamento dos pilares de pedra em Mina exemplifica a rejeição de Abraão das tentações satânicas que o impediam de sacrificar Ismael.
O "servo amado de Deus" sobre quem Deus disse "Designar-te-ei um imam dos homens" [1], retornou à Palestina e lá morreu.
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